Ficou evidente com base nas análises dos recentes resultados do Pisa, pelos diferentes especialistas, que, se há uma bala de prata para melhorar a educação brasileira, ela está na formação do professor. A qualidade do professor faz a grande diferença na aprendizagem escolar. Certamente aí está o grande gargalo de nossa educação. Anos atrás, a pesquisadora Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, já apontava as inúmeras e graves deficiências da formação inicial e continuada de professores no país. Um trabalho robusto que considerou os currículos dos cursos de licenciatura oferecidos pelas universidades brasileiras. Apesar disso, pouco ou nada se fez para mudar tais currículos, que continuam extremamente teóricos e afastados da realidade da sala de aula, do chamado chão de escola.
Certamente, importante iniciativa foi a implantação, pela Capes, do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) para alunos dos cursos de licenciatura, que hoje oferece cerca de 90 mil bolsas. Apesar de ser, em essência, um belo programa, ele ainda é insuficiente para mudar a atual realidade da formação docente no Brasil.
Um dos graves problemas verificados no trabalho de Bernardete foi o estágio curricular, absolutamente importante para a boa prática docente, que, no entanto, é pouco valorizado pela larga maioria das universidades. Entendo que um dos caminhos para melhorar a formação inicial dos professores seria a reestruturação do estágio curricular, que funciona como mais uma disciplina na grade curricular das licenciaturas. É preciso dar-lhe um novo status e mais importância. A criação de Programa de Residência Docente (PRD), inspirado em grande parte na residência médica, seria providência estratégica. Para realizar de forma autônoma e segura as atividades profissionais, os médicos precisam passar pela residência. E isso não ocorre em qualquer hospital, mas somente naqueles credenciados por comissão nacional de especialistas dos Ministérios da Educação e da Saúde.
Penso que, quando se trata de profissional como o professor, com a missão de formar pessoas, não deveria ser diferente. E para implantar a residência docente no Brasil não seria preciso reinventar a roda — basta observar e adaptar o modelo da residência médica.
Em primeiro lugar, a disciplina estágio curricular seria transformada em PRD, no último ano do curso de licenciatura. Um programa de dois semestres. Para participar do PRD, as escolas devem atender a critérios de qualificação tanto do corpo docente quanto da estrutura de salas de aula, laboratórios e biblioteca. As escolas seriam, portanto, certificadas para o PRD. Quanto aos alunos, ganhariam bolsa de residência docente no âmbito do Pibid, instituindo uma espécie de Pibid-Residente.
Nas escolas certificadas para o PRD, o trabalho dos alunos seria supervisionado por comissão de professores das universidades geograficamente mais próximas às escolas, de forma a minimizar o problema de logística dos professores — que também deveriam receber mais apoio para exercer o trabalho de supervisão e avaliação, incluindo bolsas de trabalho docente, também no âmbito do Pibid.
A meu ver, o PRD seria um passo extraordinário para mudar a atual face da formação de professores no Brasil, e mecanismo de aproximação real com as universidades.
Fonte: “Isto é”, 21 de dezembro de 2016.
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