As ofertas públicas de ações (IPO, pela sigla em inglês) devem ser retomadas neste semestre, impulsionadas pela expectativa de retomada econômica, sinalizada por indicadores da indústria e do varejo. A expectativa é que as aberturas de capital fechem o ano com movimentação de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões.
Atualmente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, a controladora do mercado de capitais brasileiro) tem 21 pedidos de IPO sob análise.
— No início do ano, houve uma interrupção nos processos de IPO por conta da pandemia. Até o início de junho, o horizonte de incertezas não permitia uma perspectiva mais clara sobre aberturas de capital este ano. Mas, dados os indicadores econômicos mais positivos nas últimas semanas, o cenário ficou mais provável para haver IPOs ainda no segundo semestre, podendo movimentar de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões — diz Roderick Greenlees, diretor global de Banco de Investimentos do Itaú BBA.
Em um cenário no qual empresas querem expandir suas operações e fazer caixa, com a taxa básica de juros (Selic) na mínima histórica de 2,25% ano ano e a maior presença de pessoas físicas na Bolsa, Greenlees é otimista com os IPOs:
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— A liquidez global está muito grande, fruto das políticas dos bancos centrais. Somam-se a isso os juros baixos no Brasil. Este cenário, considerando que não ocorram novas interrupções na economia, propiciam a concretização de dez a 20 IPOs ainda neste semestre. Mas tudo depende das condições econômicas e de saúde pública.
Já Felipe Tadewald, especialista em investimentos da consultoria Suno Research, prevê de seis a oito IPOs este ano. Ele credita a perspectiva positiva ao aumento dos pequenos investidores na Bolsa, de 44% no primeiro semestre, e à perspectiva de que os juros continuem baixos:
— Os investidores estão com apetite para renda variável, e as empresas estão precisando de caixa e também expandir suas operações. Este casamento é favorável para a abertura de capital. Os juros baixos forçam as pessoas a saírem da renda fixa e contribuem para um melhor preço no IPO.
Esse maior apetite por risco contribuiu para que o Ibovespa, principal índice da B3, acumulasse valorização de 61,8% desde 23 de março, quando registrou seu menor nível do ano, até a última sexta-feira.
O pedido mais recente de IPO foi protocolado junto à CVM na última sexta-feira, pela 2W Energia, que atua no mercado livre de energia (voltado a grandes indústrias).
No início de julho, a canadense produtora de ouro Aura Minerals levantou cerca de R$ 790 milhões em seu IPO — R$ 163,8 milhões abaixo das melhores projeções. Porém, na semana passada, a oferta da empresa de gestão de resíduos Ambipar movimentou R$ 1,08 bilhão, o teto para a negociação.
— Em um cenário de pandemia e com algumas incertezas ainda no horizonte, algumas ofertas podem ser mais bem-sucedidas do que outras. É preciso avaliar o timing para ver se o mercado está disposto a entrar naquele setor naquele momento — diz Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos.
Selic baixa também deve levar mais empresas ligadas ao setor de construção civil a abrirem seu capital, já que contribui para a redução dos juros do financiamento imobiliário. Atualmente, nove dessas companhias têm processos em análise na CVM.
Em relação às farmácias, o setor é considerado defensivo, mas tem pouca expressividade na Bolsa. Ou seja, há espaço para que mais empresas entrem no mercado.
— Além disso, a tendência é que a população brasileira siga envelhecendo. Soma-se a isso a característica de ser um setor defensivo. Enquanto a maior parte dos setores estavam fechados por conta do isolamento social, as farmácias seguiram abertas porque são serviço essencial — diz Tadewald.
‘É preciso avaliar o preço’
Guimarães, da Levante, cita as empresas ligadas a pets e à área de tecnologia, que também têm pouca presença em Bolsa.
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— Na pandemia, as empresas que têm a tecnologia como uma de suas bases sofreram impactos menos severos. Isso propicia a abertura de capital de empresas cujas operações são, em sua maioria, virtuais. Mas esse mercado no Brasil ainda precisa amadurecer mais um pouco para que start-ups e fintechs tenham a estrutura necessária para um IPO — pondera Guilherme Assis, presidente-executivo da plataforma consolidadora de investimentos Gorila.
Os investidores, porém, devem ter alguns cuidados antes de entrar em um IPO:
— IPO é uma oportunidade, mas demanda cautela. É preciso avaliar o preço das ações de empresas do mesmo setor, para saber se o preço do papel ofertado está em linha com o mercado. Também é necessário buscar as informações disponibilizadas pela empresa ao solicitar a abertura de capital, para ver seu histórico e solidez — ressalta Heraldo Abreu, assessor da Acqua Investimentos.
E não são só os IPOs que movimentam a Bolsa. Empresas já consolidadas no mercado de ações vêm fazendo ofertas subsequentes (follow-on) de seus papéis. No fim de junho, o BTG Pactual captou R$ 2,65 bilhões.
As Lojas Americanas também fizeram um follow-on na semana passada, de R$ 7,9 bilhões. Um dos objetivos é potencializar a plataforma de pagamentos AME Digital.
Também na semana passada, a JHSF Participações, do setor de shoppings, levantou R$ 433 milhões.
Fonte: “O Globo”