O pior não aconteceu — e nisso estão todos de acordo. Vai daí que a economia mundial engrenou uma marcha de recuperação? Aqui as opiniões se dividem, embora a maioria se incline para o lado otimista, como se viu, aliás, em recente enquete da revista “The Economist”, com votos pela internet. 61% dos votantes responderam “sim” à pergunta: a economia global estará em melhor forma em 2013 do que em 2012?
Nesse ângulo, a resposta cabe também para a economia brasileira e por maioria ainda mais ampla. Quase ninguém acha que este ano pode ser pior do que o anterior.
Grande vantagem, ironizam os pessimistas: nada pode ser pior que 2012, nem aqui e nem lá fora.
Faz sentido. O que leva a outra questão: o sentimento de melhora reflete uma realidade mais favorável ou apenas o alívio de se ter evitado o pior?
De fato, o mundo esteve na corda bamba. Três situações estavam colocadas na categoria “o pior que pode acontecer”: o colapso do euro, a queda dos EUA no abismo fiscal e uma parada súbita na China, com o ingrediente de crise política.
Como sabemos, nada disso se passou, o que explica o alívio. Mas as coisas foram além disso. As chances de ocorrer o pior se reduziram a um mínimo naqueles três casos.
Não se fala mais do fracasso da Zona do Euro, nem na retirada de algum país, nem em eventuais catástrofes na Grécia ou Espanha. (Sim, o governo espanhol pode cair, é verdade, mas por corrupção).
Os movimentos de rua contra os programas de austeridade perderam ímpeto, enquanto governos locais e a liderança europeia ganharam força política porque começam a aparecer os primeiros sinais de saída do fundo do poço.
Foi mais ou menos como o Occupy Wall Street. O pessoal acampou em Nova York, teve imensa repercussão na mídia global, a tradicional, e se espalhou pelas redes sociais. Com o tempo, porém, como não surgisse nenhuma liderança confiável para os outros, nem propostas consistentes, a turma desarmou as barracas e foi para casa, pensando em quem votar.
Esta é a verdade, por mais aborrecida que pareça. As políticas de austeridade mais ou menos ortodoxas estão ganhando a parada. Na Europa, François Hollande sequer conseguiu arranhar a liderança de Angela Merckel, simplesmente porque não apresentou nem uma ideia sobre como turbinar o crescimento em seu próprio país.
Nos EUA, um renovado Obama toma, na teoria, o lado dos progressistas “senso comum”, ao sustentar que o ajuste das contas públicas não pode prejudicar a recuperação do crescimento americano. Mas sabe, e negocia isso com os republicanos, que precisa apresentar um programa de ajuste de médio prazo. Como os republicanos, de seu lado, sabem que perderam a batalha e que não ganharão nada se o país cair no abismo fiscal — uma recessão provocada por uma combinação irracional de corte de gastos e aumento de impostos —, a probabilidade maior é que saia algum entendimento duradouro.
E a China não caiu numa aterrissagem forçada, nem a troca de comando político degenerou em crise — o que foi evitar o pior. Mas, do fim do ano passado para cá, a economia voltou a acelerar, embora em ritmo mais lento.
Tudo bem, admitem os pessimistas, mas acrescentam: nada disso garante que o mundo está iniciando uma nova era de crescimento. Para esse pessoal, o que se conseguiu foi apenas driblar os efeitos mais próximos da grande crise de 2008/09. Mesmo sem turbulência, tal é a tese, a economia global está presa a uma armadilha de baixa expansão por não ter resolvido as grandes questões estruturais.
Tem verdades nessa formulação. Boa parte do mundo enfrenta hoje questões estruturais graves, como — talvez a mais difícil — o financiamento dos gastos crescentes com aposentadorias e saúde. Muitas economias, especialmente na Europa, precisam de reformas variadas, politicamente difíceis, para recuperar a competitividade. E mesmo os EUA, a nação mais dinâmica entre as maduras, enfrenta barreiras naqueles mesmos temas.
Por outro lado, seguindo na vertente pessimista, mesmo os emergentes estariam perdendo o brilho do crescimento acelerado. O Brasil, aqui, é o exemplo mais destacado. Simplesmente não consegue superar os obstáculos aos investimentos públicos e privados. E não consegue por razões internas, por escolhas políticas equivocadas.
Ocorre que outros emergentes estão fazendo opções mais acertadas e, assim, mantendo a força do crescimento. O que sugere uma conclusão entre otimista e pessimista: há uma parte do mundo que vai se saindo bem, outra que se arrasta. É meio óbvio, claro, mas há sempre uma parte dominante. E, no momento, parece que essa dominância está com os países e regiões que vão encontrando as saídas para a crise e para novos momentos de crescimento. E se alguns podem….
Fonte: O Globo, 14/02/2013
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