Era difícil, quase impensável, imaginar a anexação da Crimeia pela Rússia quando os conflitos na Ucrânia se intensificaram. Mas anexações e dissociações acorrem até com certa frequência, basta relembrar os casos em Kosovo, Tchetchênia, Daguestão, ou mesmo os referentes a outros países como a Turquia, no norte do Chipre, Grã-Bretanha e as Falklands (ou seriam Malvinas?). Podemos citar vários casos, onde o que varia é o número de países que reconhecem esses Estados.
Mas o fato é que todos os votos e assinaturas já foram dados e a Crimeia agora é russa, reconheça quem reconhecer. EUA e UE se movimentam contrários a Putin impondo sansões na tentativa de intimidá-lo em futuras tentativas de anexação de territórios. Visa e Martercard, por exemplo, já estão proibidas de efetuar transações na Rússia, como parte das sanções ocidentais. Putin, por sua vez, desdenha as sanções impostas e disse, inclusive, que irá abrir uma conta em um dos bancos proibidos de transacionar na Rússia.
Nesse vai e vem de declarações, e somado ao péssimo início de ano das ações russas, as sanções ocidentais irão diminuir a atividade produtiva na Rússia, levando-os no pior dos casos a uma recessão pelos próximos dois ou três períodos. O rublo só não teve maior desvalorização em relação ao dólar do que o peso argentino, com queda de quase 9%. Essa derrocada russa será prejudicial aos países do Brics, visto que nenhum deles está com sobras de crescimento e a uma diminuição na atividade econômica russa será um muro difícil de transpor, o que irá frear ou mesmo estagnar a já lenta caminhada por conta da forte interdependência dos países que compõem o bloco.
A União Europeia é quem mais tem a perder com possíveis retaliações russas às sanções, pois 1/3 do total de energia elétrica utilizada pelo bloco vêm de fontes russas. Barreiras no sistema bancário prejudicariam o Reino Unido, um embargo de armas proibiria a França de vender helicópteros de guerra para a Rússia e um corte no fornecimento de gás, de origem russa, prejudicaria em muito o bloco ocidental europeu.
Com isso, fica a pergunta: quem sai mais prejudicado com as sanções impostas, a Rússia ou a UE?
Definitivamente, a Rússia irá endurecer o jogo e continuará tentando expandir-se pela região, pois o momento é propício a ela. Próximos alvos? Há quem diga que seja uma pequena região que hoje pertence à Modávia, chamada Transnitria, lar de 510 mil pessoas, 30,4% de origem russa, que já utiliza a legislação russa como base e está prestes a organizar um referendo para consultar sua população sobre a anexação à Rússia. O maior interesse russo nessa região é o setor imobiliário e o fato de, com recente anexação da Crimeia, poder “cortar” a Ucrânia pelos dois lados.
O Ocidente terá que endurecer o jogo também, mas sob pena de perder de vez a retomada do crescimento econômico que vinha conseguindo nos últimos trimestres. Sabe-se que o calcanhar de Aquiles russo é o setor energético, mas cabe aos EUA e UE não dar um tiro nos próprios pés e acabar perdendo o controle sobre os preços da energia, causando inflação e perdas maiores em toda região.
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