Há quase quatro anos, o Ibovespa atingiu o mesmo patamar em que se encontra atualmente. No período, o lucro operacional das principais empresas do índice experimentou um crescimento expressivo. Será que chegou a hora de fazer uma aposta mais agressiva em ações?
Antes de tentar responder essa difícil questão, pretendo desmistificar uma repetida falácia no mundo dos investimentos: a de que bolsa é um ótimo investimento, desde que o horizonte seja de longo prazo. Com o intuito de averiguar essa crença, fiz uma análise do retorno do Ibovespa em janelas de cinco anos. O resultado não é tão animador para quem acredita na tese de que “comprar e segurar” é a melhor estratégia.
Utilizei dados mensais a partir de 2000, pegando o retorno anualizado de cinco anos. Cheguei a um total de 138 observações, das quais em apenas 55% delas o Ibovespa superou o CDI. O Ibovespa rendeu algo perto de 20% ao ano nas janelas quinquenais, contra retorno de aproximadamente 19% do CDI. A mediana do retorno da bolsa ficou em parcos 105% do CDI na amostra analisada.
Quando a volatilidade é computada, percebe-se que não foi nenhuma maravilha apostar em bolsa de forma geral. Se por um lado o retorno máximo de uma janela de cinco anos do Ibovespa foi quase 48% ao ano, contra 31% do CDI, por outro lado a pior janela rendeu assustadores 6% ao ano, negativos! Isso significa que o investidor teria perdido um terço de seu capital, em termos nominais. A pior janela do CDI, em contrapartida, rendeu mais de 11% ao ano.
No período inteiro, o Ibovespa rendeu pouco mais de 270%, enquanto o CDI rendeu mais de 400%! Nesse longo horizonte superior a uma década, o Ibovespa, tirando o sono dos investidores durante inúmeras crises assustadoras, rendeu menos de 75% do CDI. Como fica evidente, o “timing” de entrada na bolsa é crucial para determinar o retorno, mesmo no longo prazo.
Essa não é a realidade brasileira apenas. O investidor que comprou S&P 500 em 2000 amarga um retorno pior que medíocre. Ele perdeu 10% de seu capital, quase 12 anos depois! No Japão a situação é muito pior: o investidor que comprou o índice Nikkei no auge da bolha, no final da década de 1980, possui hoje somente 25% do valor investido. Após duas décadas aturando a elevada volatilidade da bolsa, a senhora Watanabe teria perdido 75% de seu capital. Viva a bolsa no longo prazo?
O caso brasileiro, apesar de não ser único, possui um agravante: seu elevado custo de oportunidade. Como nenhum governo faz as reformas estruturais necessárias para colocar o país na rota do alto crescimento sustentável, nossa taxa real de juros continua em patamares elevados. A economia acaba experimentando voos de galinha. As apostas em renda variável acusam o golpe, fracassando em entregar um retorno satisfatório, quando ajustado pelo risco.
Essa tem sido a história do Brasil, e não mudou muito nos últimos anos. O fator China, que puxou o preço das commodities e permitiu um ganho gigantesco em nossos termos de troca, alongou e ampliou a fase da bonança. Mas foi só, pois novamente as reformas ficaram a ver navios. A inflação subiu de forma preocupante, o crédito sem lastro cresceu de forma muito acelerada,e aqueles que apostaram num voo de águia tiveram que encarar a dura realidade. O Ibovespa já acumula uma queda de 15% desde o pico em novembro de 2010.
Com isso, podemos retornar à questão inicial: será que está na hora de comprar bolsa? Claro que a resposta vai depender de muitos fatores. O mundo ainda vive uma fase de enormes riscos, como a possível queda abrupta do crescimento chinês, a bancarrota da Grécia e outros países europeus ou a desaceleração da economia americana. Mas, assumindo um cenário base de estabilidade externa, arrisco responder a pergunta de forma afirmativa.
À primeira vista, isso pode parecer estranho, após tanto pessimismo. Mas meu ponto central é que a hora da aposta é justamente aquela em que muitos estão desanimados. E, de fato, os investidores estrangeiros já jogaram a toalha em relação ao Brasil, os fundos locais estão leves, com muito caixa, e os analistas parecem entediados.
Ao contrário de muitos investidores, minha aposta não é no longo prazo, pois neste período o CDI dificilmente perde. Mas acredito que para um prazo mais curto, de 6 a 12 meses, este pode ser um bom momento para acrescentar risco e comprar bolsa. Muito pessimismo parece precificado, e qualquer alívio nas principais preocupações dos investidores pode levar a um interessante rali. Um bom ativo pode ser uma má aposta, e vice-versa.
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2011
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