Quando há algum problema no bairro – um buraco na rua, uma queda de poste, um encanamento quebrado –, é de entendimento geral dos brasileiros que ele irá demorar para ser resolvido. Se essa demanda realmente for solucionada, será após muito trabalho de comunicação entre cidadãos e órgãos públicos.
Essa foi uma deficiência que Gustavo Maia, Bruno Aracaty e Paulo Pandolfi perceberam em 2012, após trabalharem com marketing político digital nas eleições para a prefeitura de São Paulo. “Queríamos construir uma ponte melhor entre candidatos e pessoas, solucionando o problema de comunicação e gestão nos governos. Conhecíamos alguns gestores públicos, por exemplo, que não conseguiam pegar a demanda da população e transformá-la em uma ação estruturada”, afirma Maia. As reclamações na internet estavam muito pulverizadas e isso dificultava e identificação das questões.
Juntando-se ao sócio Josemando Sobral, que trabalha na área de tecnologia, os empreendedores fundaram no ano seguinte a startup Colab, espécie de rede social com uma timeline para cada órgão público (veja uma entrevista feita logo no início do serviço). Nesse perfil, é possível que os moradores falem com o governo e vice-versa, trocando reclamações e iniciativas. A ideia deu tão certo que ganhou uma premiação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na categoria de “Startups com Maior Impacto Social de 2015” (o prêmio foi dividido com a colombiana 1Doc3).
A premiação ocorreu na semana passada, em cerimônia realizada em Washington (EUA), após uma disputa entre 200 startups de 19 países. Os empreendedores brasileiros também receberam o prêmio de “Startup com Maior Potencial Global de Alcance”, pela RedEmprendia, apoiada pelo Santander.
Funcionamento
Lançado em maio de 2013, o Colab possui hoje mais de 100 mil usuários cadastrados e 80 prefeituras conectadas (por exemplo, Campinas/SP, Curitiba/PR e Pelotas/RGS). Após o morador baixar o aplicativo ou então se cadastrar pelo site, há três ações possíveis: reportar um problema, sugerir ideias e projetos e avaliar serviços como aeroportos, estádios e terminais de ônibus. Caso seja uma demanda, ele deve subir uma foto, definir uma categoria de problema, confirmar o local e publicar.
Essa reclamação ficará disponível na linha do tempo da cidade, para todos verem e comentarem. O órgão público recebe uma notificação e inicia o atendimento – enquanto isso, todos que apoiaram a publicação recebem notificações do andamento da solução. Quando a prefeitura diz ter resolvido o problema e o usuário que publicou a demanda confirma a solução, também há uma notificação aos usuários. A qualquer momento, outro usuário pode contestar essa finalização e o processo é retomado.
Foi o que aconteceu com um buraco aberto em uma rua de Pelotas. Um usuário reportou o problema e a prefeitura do local solucionou a demanda. No entanto, após alguns dias, esse mesmo buraco reabriu e outro morador reiniciou o processo novamente. Após algum tempo, esse mesmo usuário informou que a prefeitura consertou o buraco, com um material de melhor qualidade. “Se não fosse pelo Colab, um problema desse tipo não se resolveria nunca”, diz o cofundador. Entre as cidades que usam o Colab como canal oficial de relacionamento no meio digital, o índice de solução dos casos é de 70%, informa a startup.
Outro exemplo de ação foi o da prefeitura de Campinas. A cidade iria abrigar um evento cultural, e o órgão resolveu fazer uma postagem no Colab, pedindo que os próprios cidadãos escolhessem as atrações desejadas. Esse tipo de ação também é uma forma de atrair usuários que, a princípio, não têm do que reclamar.
A plataforma é gratuita e o foco atual da startup é ganhar volume de usuários e órgãos públicos. Após essa fase, o Colab irá pensar em formas de monetização do aplicativo. “Somos a maior ferramenta nesse sentido no país, e não medimos esforços para ter mais cidades na plataforma. Queremos mostrar para a prefeitura tudo que é possível fazer gratuitamente. Depois, buscaremos oferecer coisas quando a prefeitura já está indo bem”, diz Maia.
Fonte: Exame.
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