Especialistas sustentam que a medicina caminha para prever problemas de saúde antes que eles sejam danosos aos pacientes, com o uso de inteligência artificial e tecnologias vestíveis integradas, cuja comunicação de informações é feita em tempo real.
Na década de 1960, as primeiras experiências daquilo que mais tarde viria a ser chamado de telemedicina usavam satélites para atender astronautas e militares que, em bases longínquas, trabalhavam na corrida espacial travada entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética. Desde então, o avanço da assistência médica à distância acompanha o ritmo da evolução tecnológica, como afirma Chao Lung Wen, um dos pioneiros no estudo da telemedicina no Brasil.
— O que nosso smartphone faz hoje com um wi-fi simples pedia, na época, um satélite com uma banda totalmente conectada e uma aparelhagem formidável. O que nós chamamos de tecnologia popular hoje era altíssima tecnologia nas décadas de 1960, 70, 80, 90 e mesmo na década passada, até 2010 — afirma. — O que nós usamos hoje é alta tecnologia. Portanto, estamos num momento de evolução exponencial em que podemos fazer as coisas de forma mais ampla e ágil.
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Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Chao Lung Wen comanda a disciplina de Telemedicina na instituição, uma das poucas no país que oferecem aulas sobre o tema. Para ele, bem como a história da prática, seu futuro se valerá das descobertas tecnológicas — de inteligência artificial à internet das coisas. Antes, porém, o especialista pondera.
— Precisamos fazer uma ruptura do conceito de medicina. Ela não pode somente tratar doenças, precisa liderar para que as pessoas não fiquem doentes. O próprio coronavírus está nos ensinando um pouco isso. Uma pessoa saudável enfrenta a Covid-19 com muito menos problemas. O futuro, nesta década da saúde conectada, será feito de médicos usando conhecimentos para interferir e interromper uma doença antes que ela prejudique uma pessoa — afirma ele, ressaltando a diferença entre a telemedicina, que é um ato médico, por isso não pode ser feito por um robô, e plataformas específicas, que possibilitam que a telemedicina seja realizada de forma segura, com sigilo de dados.
Inteligência artificial
De acordo com o médico britânico Charles Alessi, a medicina caminha exatamente rumo a essa antecipação de problemas específicos — seja o risco de um derrame ou a propensão para sofrer complicações de diabetes. Diretor médico do Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), associação internacional de informação e tecnologia na área médica, Alessi lembra que a inteligência artificial já é usada por alguns países no próprio tratamento de Covid-19, identificando pacientes que potencialmente vão precisar de ventiladores.
— A Coreia do Sul tem feito um trabalho bem interessante em identificar pacientes que deve exigir tratamento assim que eles dão entrada no hospital. De forma semelhante, Israel usa algoritmos para identificar na população pessoas com mais propensão a desenvolver complicações decorrentes do coronavírus, dependendo de seu histórico.
Facilidades em casa
Se as plataformas digitais são essenciais para a telemedicina, os chamados devices, ou dispositivos, surgem como aliados do paciente para driblar a falta do exame físico presencial no atendimento à distância, como lembra Guilherme Weigert, CEO da start-up Conexa Saúde, que desenvolve plataformas para a prática da telemedicina.
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— O maior desafio da telemedicina era como fazer um diagnóstico sem ter exame físico. O que a gente tem visto é que já existem vários devices no mercado para se fazer desde a aferição de pressão e pulso, frequência cardíaca, até para calcular a curva de oxigenação do corpo — diz Weigert. — Hoje é possível comprar um oxímetro na farmácia. Esses dispositivos já estão nas casas das famílias. Sem falar dos mais modernos, como a última versão do Apple Watch, que faz até eletrocardiograma e permite saber se o paciente está com alguma arritmia.
A tendência, completa, “é que esses dispositivos estejam mais integrados e, assim, será possível a comunicação de informações sem que o paciente precise fazer algo”. Ele exemplifica:
— O relógio, por exemplo, pode gerar alertas para os médicos atenderem seus pacientes indicando alguma anormalidade na pressão arterial ou no ritmo cardíaco. A leitura facial é outro exemplo. Em Israel, já existe um dispositivo que faz a chamada pletismografia facial para aferir sinais vitais do paciente. Com uma espécie de selfie, o médico pode ter informações sobre a saúde do indivíduo.
Charles Alessi também enfatiza a importância da internet das coisas na medicina do futuro, com a necessidade de integração das informações fornecidas por tecnologias vestíveis:
— Para que se aplique inteligência artificial, precisa-se de uma grande quantidade de pontos de informação. E se ela for coletada em diversos lugares, o potencial de conhecimento cresce. A tecnologia 5G, que permite que a internet das coisas aconteça em tempo real, será um facilitador enorme para acelerar esse processo.
Fonte: “O Globo”