O déficit comercial dos EUA aumentou mais do que o previsto e bateu novo recorde de alta nos primeiros cinco meses de 2019, com destaque para as importações, que não subiam tanto desde 2015. Tal resultado ilustra como as políticas comerciais do presidente Donald Trump são um grande fracasso.
Desde a posse, as tarifas se tornaram parte fundamental da estratégia de Trump para combater os moinhos de vento do déficit comercial. Como visto acima, não funcionou. Agora, o mais terceiro-mundista dos presidentes americanos resolveu recorrer a outra estratégia fadada ao fracasso: pressionar o FED para que desvalorize o Dólar.
Como os habitantes de Pindorama sabem, desde priscas eras, a demanda do presidente é baseada na noção errônea de que uma taxa de câmbio mais fraca pode conferir ao país uma vantagem sustentável na promoção das exportações. A teoria por trás dessa bobagem já foi devidamente refutada há 250 anos, quando Adam Smith desmistificou o mercantilismo, uma falácia segundo a qual o sucesso econômico das nações consistiria principalmente em exportar mais e importar menos.
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Como explica Daniel Griswold em artigo recente, para milhões de trabalhadores norte-americanos, uma política de desvalorização intencional do dólar tornaria a vida diária mais difícil. Um dólar mais fraco não apenas tornaria as viagens ao exterior mais caras, mas também levaria a preços mais altos para uma série de bens de consumo que se destacam nos orçamentos das famílias – itens essenciais como sapatos, roupas, móveis, eletrodomésticos, carros e alimentos frescos. Isso afeta principalmente os mais pobres. Dito de outra maneira: preços mais altos significam salários reais mais baixos.
Um dólar fraco também significa maiores custos de produção para os produtores locais. Mais da metade dos bens que os americanos importam não são para consumo, mas para produção: matérias-primas, insumos intermediários, maquinário de capital. Um dólar em declínio geralmente significa um preço mais alto para insumos cruciais, como o petróleo importado, por exemplo.
Os resultados da balança comercial, ao contrário do que pensam Trump e seus asseclas, são um claro sinal de que as leis da economia ainda se aplicam, e que as promessas trumpistas de incrementar o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, reduzir o déficit comercial, são incompatíveis. Também demonstram que não existe qualquer relação de causalidade entre aumento dos déficits comerciais e aumento do desemprego doméstico no agregado, já que este último índice continua bastante baixo, mesmo diante da escalada dos déficits comerciais.
Finalmente, uma sugestão a Trump: se quer reduzir o déficit comercial, trate de arrumar a própria casa. Os livros didáticos de economia nos ensinam que os recorrentes déficits comerciais estão relacionados aos desequilíbrios de poupança/investimento – e esse desequilíbrio deve ser atribuído ao governo.
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Cada aumento do déficit público (que não para de crescer desde a posse de Trump), sem a contrapartida de um aumento da poupança privada, aumenta a demanda por investimento estrangeiro, cuja contrapartida, por sua vez, é o aumento do déficit nas transações correntes. E foi exatamente isso que aconteceu durante o seu governo: os déficits em conta corrente aumentaram nos últimos dois anos em resposta ao aumento dos investimentos externos na conta de capital, necessários para compensar o descontrole dos gastos públicos.
Veja no gráfico abaixo como são simétricas, ao longo do tempo, as linhas de superávit de investimentos externos e déficit comercial.