No final de junho, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá definir as metas para a inflação em 2018 e em 2019. A meta para 2018 parece já definida em 4,5%. A questão é qual a meta para 2019. Esta será uma das mais importantes decisões de política monetária de 2017.
A meta de 4,5% foi definida em 2005 e permanece nesse nível desde então. É uma das maiores metas para a inflação de países emergentes e bem superior às metas definidas para os países desenvolvidos (2,0%). As questões que se colocam para o CMN são se uma redução da meta para 2019 é viável, qual o tamanho da queda e quais as consequências dessa decisão.
Uma inflação mais baixa tem vários benefícios para a sociedade. Em especial, ela reduz as incertezas quanto à evolução futura da própria inflação – e, portanto, da renda real das famílias – e facilita o processo decisório dos agentes econômicos.
Entretanto, no curto prazo, existe uma relação inversa (direta) entre as taxas de inflação (taxa de juros real) e a taxa de desemprego. Taxas de juros elevadas reduzem a demanda por crédito e, portanto, o consumo e o investimento. Com menos consumo e menos investimento, as empresas produzem menos, empregam menos trabalhadores e a taxa de desemprego aumenta. Com o aumento do desemprego, a renda das famílias cai, reduzindo ainda mais o consumo e o investimento. Com maior ociosidade, as empresas diminuem os aumentos de preços e a inflação cai. Ou seja, taxas de juros mais elevadas significam mais desemprego e menos inflação, e vice-versa.
Com base nessa evidência, alguns analistas sugerem que, se reduzir a meta de inflação para 2019, o Banco Central (BC) terá de manter uma taxa de juros mais elevada no curto prazo, aumentando o desemprego. Nesse sentido, seria mais adequado, neste momento de recessão, manter a meta nos níveis atuais, o que criaria espaço para uma queda mais forte dos juros e, portanto, mais crescimento econômico e menos desemprego.
Ao contrário desses analistas, nossa avaliação é de que uma redução substancial da meta seria bastante positiva para o país. Em primeiro lugar, porque a evolução da taxa de inflação já mostra convergência para 3,5% ao ano no final de 2018. Essa queda da inflação é generalizada, incluindo os preços dos serviços, que são os mais sensíveis à taxa de juros. Ou seja, definir a meta de 2019 em 3,5% ao ano apenas validaria a taxa de inflação então corrente e não exigiria um esforço adicional da política monetária.
Em segundo lugar, caso a meta seja mantida em 4,5% ao ano, para atingi-la, o Banco Central terá de “reinflacionar” a economia, com perda de renda real para as famílias e fortalecimento dos mecanismos de indexação.
Terceiro, ao validar o patamar de inflação em 3,5% ao ano, o Conselho Monetário Nacional passará à sociedade o sinal de que está convicto de que tal patamar é sustentável, e não um resultado fortuito que será revertido em breve.
E, em quarto lugar, em razão do alto nível de credibilidade do Banco Central, uma meta menor vai reduzir a taxa de inflação esperada pela sociedade. Com isso, as expectativas para a inflação em 2019 convergiriam rapidamente para a nova meta e a taxa de desemprego – e, portanto, a taxa de juros necessária para levar a taxa de inflação para a meta – cairia.
A redução da meta reforçaria o efeito da aprovação da reforma trabalhista, que, por si só, já levaria a um deslocamento da relação entre inflação e desemprego para baixo.
Portanto, nossa sugestão é de que o Conselho Monetário Nacional reduza a meta para a inflação em 2019 para 3,5% ao ano. Com isso, validaria a taxa de inflação vigente, sinalizaria que esse patamar é sustentável e deslocaria a relação entre inflação e desemprego para baixo. Seria uma decisão ousada, é verdade, mas responsável.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 20/06/2017.
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