A democracia é o regime político que faz da diferença uma oportunidade de progresso. Por consequência, o campo democrático deve ser aberto, maleável e plural, o que está longe de significar o abandono de ideais fortes e posicionamentos firmes. Político sabonete apenas serve para uma política escorregadia. Aliás, a liberdade de dizer com clareza e sem rodeios o que se pensa constitui princípio fundante de uma democracia madura e responsável. Logo, o dissenso e a consequente construção de um consenso possível pressupõem a existência de lados opostos que, através do debate público sem farsas, legitimam-se perante os cidadãos como um caminho confiável para o surgimento de dias melhores.
Infelizmente, o vazio de representatividade das democracias modernas lança dúvidas, descrença e desesperança. Agrava a circunstância, a sorrateira atuação dos aproveitadores de plantão que, por seus volúveis interesses do momento, fazem de tudo para desestabilizar as estruturas institucionais do jogo democrático e, com isso, se apropriarem, parasitariamente, do poder. Para essa turma tacanha, a corrupção não passa de um meio útil para atingir um fim divorciado da honra. Só e somente só; nada mais.
Ora, nesse contexto de aridez moral, é crescente a insatisfação dos brasileiros com os graves desvios éticos e administrativos de governos incompetentes. Paradoxalmente, as alternativas que se apresentam são pouco animadoras. Eis o nó da questão: enquanto aqueles que se julgam capazes e dignos permanecerem alheios ao protagonismo político, a democracia seguirá sendo governada pelos medíocres. Enquanto silenciarmos a dimensão política de nosso espírito, a eloquente voz da democracia seguirá sendo distorcida pelo som da mentira e da demagogia populista. Quanto mais a virtude calar, mais fundas serão as raízes do vício.
Apesar de todos os danosos e danados usos e abusos que se praticaram recentemente no país, a oposição brasileira, traindo suas melhores tradições, se apresenta ao povo como uma autêntica homenagem a insossos chuchus. Depois de personalidades notáveis como João Mangabeira, Afonso Arinos e Paulo Brossard, que com destemor, alto espírito público e valentia enfrentaram situações de absoluta anormalidade democrática, é decepcionante olhar para atual bancada oposicionista e simplesmente ouvir vozes que não falam. Chegam ao ponto de quase pedir licença para fazer criticas tímidas aos clamorosos desmandos oficiais; não possuem unidade e coesão interna para expor os desatinos do governo e, como crianças indefesas, parecem imobilizadas com o festival de besteiras que diariamente desaguam do Planalto. É hora de acabar com essa apatia oposicionista. Somente falando as verdades que o povo precisa escutar, a nação acordará de sua sonolência cívica. Até quando a necessária voz crítica da oposição deixará a democracia brasileira órfã de uma representação séria, combativa e voltada aos melhores interesses da pátria?
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