Os indicadores da economia brasileira continuam dando sinais muito ruins. A produção industrial caiu 6,9% ao ano e todos os dados disponíveis até o momento apontam para uma queda do PIB no segundo trimestre de 2014. Ainda assim, a taxa de inflação permanece próxima ao teto do intervalo de metas, apesar do controle de preços administrados, e não dá sinais de arrefecimento. Ou seja, crescimento baixo e inflação elevada.
Um fator conjuntural importante foi a realização da Copa do Mundo no país. Para que não houvesse problemas de mobilidade urbana durante o evento, os dias de jogos foram declarados feriados nas cidades onde eles se realizaram e, quando havia jogos do Brasil, tanto a indústria quanto o comércio deixaram de funcionar por pelo menos meio dia em todo o país. O resultado foi a queda acentuada da demanda e da produção durante esse período. Porém, não apenas a desaceleração precedeu a Copa, como crescimento baixo com inflação elevada é um claro sintoma de que existem fatores que estão afetando a capacidade da oferta de responder aos estímulos advindos dos aumentos de demanda.
Parte do problema está relacionada à reação dos bancos centrais dos países desenvolvidos à crise financeira de 2008. Ao aumentar espetacularmente a liquidez comprando títulos diretamente no mercado e manter as taxas de juros próximas a zero, esses bancos centrais geraram forte desvalorização de suas moedas, o que diminuiu a competitividade dos países emergentes.
Entretanto, ao adotar o diagnóstico equivocado de que a desaceleração da economia brasileira a partir de 2011 estava relacionada à queda da demanda, e não à incapacidade da oferta de enfrentar a competição externa, o governo brasileiro deu um tiro no pé. Com esse diagnóstico, as taxas de juros continuaram a ser reduzidas, reduziu-se o superávit primário e a oferta de crédito dos bancos públicos permaneceu elevada. O resultado foi desastroso.
O aumento da demanda por bens não comerciáveis gerou queda na taxa de desemprego, aumentos dos salários nominais e dos preços dos serviços próximos a 9% ao ano e dos salários reais acima dos ganhos de produtividade. A elevada taxa de inflação dos serviços gerou uma mudança de preços relativos contra os bens comerciáveis, valorizou o real e reduziu a competitividade da economia brasileira. O crescimento da demanda dos bens comerciáveis (bens industriais) foi, em grande parte, atendido por aumento das importações, eliminando os superávits da balança comercial. O resultado foram a redução da participação da indústria no PIB e a aceleração do processo de desindustrialização da economia brasileira.
Em razão da elevada inflação de serviços, a tarefa de manter a taxa de inflação dentro do intervalo de metas se tornou particularmente difícil, exigindo forte controle sobre alguns preços administrados (combustíveis, transportes públicos e energia elétrica), o que, combinado à falta de chuvas e à mudança na regulação, resultou na completa desorganização do setor elétrico.
Sair dessa armadilha não será uma tarefa fácil. Para colocar os preços dos bens administrados onde deveriam estar será necessário um ajuste que deverá gerar pelo menos 2 pontos de porcentagem sobre a taxa de inflação. Para parar a desindustrialização, será preciso mudar os preços relativos em favor dos bens comerciáveis, o que exigirá uma queda da taxa de inflação do setor de serviços. Para tal, ou a taxa de desemprego aumenta ou se conseguem ganhos significativos de produtividade do trabalho, o que exigiria reforma das legislações trabalhista e tributária e dos sistemas educacional e previdenciário, que tomam tempo e exigem muito capital político. Além de grandes investimentos em infraestrutura. Não será um processo de ajuste indolor, mas, se não for feito, o resultado será a persistência de baixo crescimento, inflação elevada e desindustrialização. Uma trilogia maldita.
Fonte: O Estado de S.Paulo, 09/08/2014.
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