Nas últimas semanas tivemos discussões interessantes que remetem à relação entre equidade e educação.
A assertiva do ministro Ricardo Vélez de que a universidade não é para todos criou certa celeuma, embora apenas registrasse o que ocorre na maior parte dos países, inclusive os desenvolvidos, onde a opção pelo ensino técnico e profissional —como alternativa à universidade, e não como passo inicial para ter acesso a ela— é muito mais disseminada.
Mas, como bem lembrou Simon Schwartzman, a universidade atende a uma parcela ínfima da população, em nada comparável a daqueles países.
Temos hoje apenas 18% dos jovens de 25 a 34 anos com nível universitário, frente a 28% na Colômbia, 34% em Portugal e 70% na Coreia do Sul. Estamos, portanto, atrasados no acesso ao ensino superior, mesmo com a grande expansão de vagas nos últimos 20 anos.
Temos, portanto, que prosseguir ampliando o acesso aos dois, tanto ao ensino técnico quanto ao superior.
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Precisamos também repensar o sistema de seleção de candidatos às escolas profissionais, para evitar que o curso técnico se destine sobretudo a quem deseja um ensino público de mais qualidade para aumentar as chances de passar em vestibulares para cursos superiores em tudo distintos do que se cursou na etapa anterior.
Outra colocação bem posta é a do ex-senador Cristovam Buarque, que relembrou que o acesso à universidade para todos dependeria da aprendizagem no ensino fundamental e médio. Não depende só disso —há que se discutir a demanda atual e futura do mercado de trabalho—, mas, como hoje há clareza de que a qualidade da educação básica no Brasil deixa a desejar, ele tem um bom ponto aí.
É importante também lembrar quem tem, de fato, no país, acesso à universidade. Em interessante texto intitulado “Educação nas classes CDE”, Rafael Camelo, Mariel Deak e Veveu Arruda mostram que, embora os últimos 20 anos tenham trazido, para jovens de nível de renda mais baixos, avanços educacionais, as desigualdades persistem.
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As conquistas são ainda menores em aprendizagem e permanência: os alunos de origem mais humilde, ao longo da escolaridade básica, aprendem menos e abandonam mais a escola.
Assim, não é surpreendente que o acesso à universidade ainda seja tão restrito, embora em claro crescimento, para essa população. A taxa de matrícula líquida para as classes C, D e E cresceu bastante de 1995 para 2015, mas é só de 19,4% para a classe C e de 6% para as D e E, contra 38,9% para as A e B.
Muita ação afirmativa, em todos os níveis de escolaridade, ainda será necessária se quisermos ter equidade na educação brasileira.
Fonte: “Folha S. Paulo”, 08/02/2019