“Por 61 anos, temos “servido como mestres” em nome dos cidadãos da República Popular da China. Mas a liberdade de expressão e de imprensa que temos é inferior até à liberdade confiada aos residentes da colônia de Hong Kong antes de seu retorno à soberania chinesa [em 1997]” – a afirmação é de ex-membros do Partido Comunista Chinês, em documento divulgado em 12 de outubro e, como era de se esperar, prontamente censurado pelo governo do país. Leia a notícia publicada pela “Folha de S. Paulo”:
“Um grupo de 23 antigos membros do Partido Comunista chinês divulgou ontem uma carta aberta exortando o governo do país a abolir o aparato de censura.
Mas, assim como ocorreu com o anúncio da nomeação do dissidente chinês Liu Xiaobo ao Prêmio Nobel da Paz, o documento foi rapidamente retirado da internet.
“Por 61 anos, temos “servido como mestres” em nome dos cidadãos da República Popular da China. Mas a liberdade de expressão e de imprensa que temos é inferior até à liberdade confiada aos residentes da colônia de Hong Kong antes de seu retorno à soberania chinesa [em 1997]”, diz o documento, em alusão ao início do regime comunista, em 1949.
Os autores da carta, que incluem Li Rui, ex-secretário pessoal de Mao Tsé-tung, e Huang Jiwei, ex-editor do jornal do PCC “People’s Daily”, exortaram o governo a abolir a censura na internet, a abrir a discussão sobre os “erros” do partido e a privatizar dois jornais estatais como piloto de mídia independente.
O documento lembra que a liberdade de expressão é garantida pelo artigo 35 da Constituição chinesa, pelo qual “os cidadãos da República Popular da China desfrutam de liberdade de expressão, de imprensa, de assembleia, de associação, de marcha e de manifestação”.
FORA DO AR
Outra mudança defendida é a reforma dos “órgãos de propaganda” do governo para que deixem “de assistir funcionários corruptos a suprimirem e a controlarem histórias e passem a apoiar a mídia no monitoramento do partido e órgão do governo”.
O texto menciona e apoia ainda as surpreendentes declarações recentes do premiê chinês, Wen Jiabao, em favor de maior abertura, inclusive uma entrevista à CNN na qual afirmou que “os desejos e as necessidades da população por democracia e liberdade são irresistíveis”.
Apesar de divulgado ontem, quatro dias depois do Nobel ter sido concedido a Liu, o documento não menciona nem o dissidente político, condenado há 11 anos, nem o motivo de sua prisão: a chamada Carta 08, publicada em 2008 e assinada por 303 ativistas, que defende reformas democráticas e o fim do monopólio político do Partido Comunista Chinês.
O documento foi divulgado em sites chineses ontem de manhã e retirado do ar em seguida. Assim como a Carta 08, é praticamente impossível encontrá-lo na internet chinesa, que tem censurado notícias sobre Liu.
Ontem, o governo chinês continuou a criticar duramente a concessão do Nobel. Em entrevista coletiva, o porta-voz da Chancelaria Ma Zhaoxu disse que o prêmio está sendo usado “por alguns políticos de outros países para atacar a China”.
A mulher do agraciado com o prêmio, Liu Xia, continuou ontem impedida de receber jornalistas e amigos em sua casa, sob permanente vigilância policial.
Pequim voltou a dar sinais de que cumprirá a ameaça de retaliar diplomaticamente a Noruega, sede do comitê do Prêmio Nobel.”
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