Normalmente muito reservado, sobretudo após ter sido exorcizado da missão de ajudar Barack Obama a reconstruir as finanças do país — embora seu cargo tivesse sido anunciado com pompa pelo presidente novato logo no início do mandato —, Paul Volcker continua sendo lembrado e ouvido, quando se digna a abrir a boca.
Foi o que fez esta semana, ao declarar que as medidas do Comitê de Política Monetária do Fed, trombeteadas por Bernanke, chefe da entidade, apesar de compreensíveis e bem-intencionadas, são basicamente inúteis.
Volcker está, mais uma vez, cheio de razão. O que ele argumentou aos jornalistas cabe numa linha. Lembrou que os mercados já estão inundados de liquidez. E, no entanto, o emprego e a produção capengam nos EUA e no mundo.
Aumentar ainda mais a liquidez é elevar a dose do mesmo remédio, que não apresenta boa resposta. Simples, não? Mais claro, impossível.
Por trás dessa simplicidade toda, existe uma boa e sólida teoria da moeda e do crédito, que alguns economistas aprendem em algumas boas escolas.
Está aí a velha e útil equação quantitativa da moeda, que ensina algo importante nesses tempos de desconfiança dos mercados e retração dos investidores produtivos. E o que nos diz a equação?
Em tempos de retração motivada por excesso de endividamento precedente, o sistema bancário torna-se lerdo para emprestar. Isso aparece na equação da expansão da moeda na variável “velocidade”, que é uma medida de quantas vezes (num ano) uma unidade de dinheiro gira na economia para fazer acontecer o PIB, isto é, o fluxo de riquezas produzidas.
A intenção de Bernanke ao emitir um caminhão de moeda é estimular o aumento do PIB corrente, o lado produtivo da equação. Mexe no lado monetário para atiçar o lado real, do emprego e das compras. Mas é inútil.
Os bancos só querem emprestar para quem não precisa, enquanto o povo endividado quer aprender a gastar menos.
A velocidade de circulação de dinheiro cai rápida e fortemente, neutralizando a expansão da moeda que sai dos cofres do Fed. Eis por que Volcker tem razão de desmentir Bernanke. Difícil é descobrir o motivo para um acadêmico do porte de Bernanke cometer erro tão grosseiro.
É que o Fed passou a representar o interesse dos bancos, que precisam de reservas para continuar se capitalizando e especulando nos mercados de ações e commodities.
Aplicando uma antiga expressão nossa, ” é a ciranda financeira do Bernanke”. É de dar pena dos americanos.
Desta vez, entretanto, BB promete algo mais grave: continuar a emitir, o quanto for preciso, até que a economia ressuscite das trevas. Ou que exploda numa espiral de inflação? É o que veremos em breve.
Fonte: Brasil Econômico, 28/09/2012
No Comment! Be the first one.