Presidente e fundadora da Blue Tree Hotels, a empresária Chieko Aoki foi eleita pela revista “Forbes” a segunda mulher de negócios mais poderosa do Brasil em 2013. Conhecida como a “dama da hotelaria brasileira”, Aoki acredita que a presença feminina tende a ser cada vez mais comum no setor empresarial, que ainda hoje é formado majoritariamente por homens. “As mulheres são maioria com ensino superior no Brasil e estão ocupando importantes espaços no mercado de trabalho”, diz. Graça Foster, presidente da Petrobras, ocupa a primeira posição na lista de 10 mulheres.
Em entrevista exclusiva para o Instituto Millenium, Aoki fala sobre as perspectivas para o setor hoteleiro no país. Ela acredita que a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 representam boas oportunidades de crescimento para o turismo no país, ainda muito associado ao turismo de negócios. Na opinião de Aoki, para o setor de lazer evoluir é preciso planejamento com ação integrada entre os governos e investimentos em meios de transporte. “Isso exige coordenação que seria interessante ser de iniciativa do governo local, que tem competência de movimentar diversos setores da economia”. Outro problema que deve ser superado diz respeito à qualidade da mão de obra. “A questão da mão de obra é sim um grande desafio para o mercado hoteleiro no Brasil”. Leia a entrevista:
Instituto Millenium: A revista americana “Forbes” a elegeu, em 2013, como a segunda mulher de negócios mais poderosa do Brasil. A senhora também acumula vários outros prêmios. Acredita que ultrapassou uma barreira já que o setor empresarial ainda é dominado por uma maioria masculina?
Chieko Aoki: Ainda hoje as mulheres precisam vencer dificuldades para, principalmente, se manterem no mercado de trabalho e seguirem carreira com muito mais sacrifícios do que os homens. Mas essa situação está se transformando com velocidade, com o mundo mudando o estilo de vida, a estrutura da sociedade e das famílias. Porém, as habilidades necessárias para as próximas gerações de executivas ainda serão exatamente as mesmas: capacidade de atingir as metas de resultado das empresas juntamente com contribuição transformadora positiva à sociedade.
O mercado corporativo brasileiro é modernizado e está atualizado na questão das mulheres. É cada vez mais comum ouvir saltos altos nos corredores e em reuniões decisivas das companhias. As mulheres são maioria com ensino superior no Brasil e estão ocupando importantes espaços no mercado de trabalho. Além da qualificação, elas têm características que somam muito nas empresas: são detalhistas, atenciosas, comunicativas e sabem lidar com pessoas. Acredito que a presença feminina tende a ser cada vez mais comum, mas não podemos nos esquecer de que esse é um processo e que os homens se estabeleceram muito antes como profissionais. O melhor de tudo é o equilíbrio que conquistam com diversas áreas da vida.
Imil: A senhora acredita que imprimiu uma marca pessoal no modo de administrar a rede e receber os hóspedes?
Chieko Aoki: Acredito que sim. Sou exigente e perfeccionista comigo em tudo que faço e isso refletiu no meu trabalho, no qual busco não apenas fazer melhor, mas inovar, trazer ideias para fazer a diferença. Além disso, a nossa cultura é de contínuo aprendizado, pois queremos não apenas fazer mais e melhor, mas continuarmos atentos e prontos para absorver, aprimorar e inovar as nossas práticas, nos antecipando às tendências e às novas necessidades de hóspedes, clientes e colaboradores. Gostamos de estar à frente e criar novos conceitos e práticas em hotelaria, focando sempre nos nossos clientes: hóspedes, investidores e a equipe. É o que chamamos de “alma Blue Tree”.
Imil: Neste ano, o Brasil vai ser sede da Copa do Mundo e, em 2016, o Rio vai ser o cenário das Olimpíadas. Mas a economia no país apresenta problemas — a inflação do ano fechou no teto, a indústria teve déficit comercial em 2013 e os especialistas apostam que o país terá sua classificação de risco rebaixada antes das eleições de outubro. Quais as perspectivas para o setor hoteleiro?
Chieko Aoki: De acordo com avaliação de nossos executivos, e também pelas pesquisas feitas com os clientes, os grandes eventos relacionados à Copa do Mundo devem se concentrar no primeiro semestre de 2014 pelos patrocinadores e outras empresas que realizarão eventos ligados ao tema, além dos eventuais, porém em volume reduzido. Já no segundo semestre, a expectativa é que mantenhamos as demandas convencionais para o período, como reuniões e treinamentos, mas sem aumento no número de eventos.
Tanto a Copa do Mundo quanto as Olimpíadas são nossas grandes oportunidades de mostrar ao mundo o nosso melhor, não apenas em hotelaria como também em compras, museus, cultura, arquitetura, música, entretenimento e restaurantes com excelente comida. Isso depende da decisão das empresas de acreditar e investir no mercado de turistas e, quanto melhor fizermos, com certeza o Brasil será divulgado boca a boca ou via internet. Será muito produtivo se os setores que formam o turismo se unirem, assim como se este setor unir-se a outros, incluindo o de shopping centers e núcleos culturais, com estratégia comum de conquistar efetivamente os turistas.
Imil: A imprensa noticiou que a demanda por hotéis na Copa das Confederações, que ocorreu em meados do ano passado, ficou abaixo do esperado. Concorda? A que se deve isso? Acha que os protestos de rua influenciaram neste resultado?
Chieko Aoki: A maior demanda da Copa das Confederações foi de torcedores locais, ou seja, que moravam na cidade onde os jogos aconteceram. Por conta disso, identificou-se movimentação de estadas menor do que o esperado. E a Copa das Confederações também teve um número menor de cidades-sede do que as previstas para a Copa do Mundo, evento para o qual o setor está realmente aguardando lotação máxima.
Não acredito que as manifestações de junho passado tenham influenciado de alguma forma o desempenho do setor hoteleiro durante a Copa das Confederações. No Rio de Janeiro, por exemplo, de acordo com uma pesquisa realizada por uma consultoria em turismo, 40% dos turistas estrangeiros que estavam na cidade à época dos protestos consideram essa movimentação social normal. Dos 500 viajantes ouvidos, 85% disseram que pretendiam voltar ao Rio de Janeiro e 65% revelaram que já tinham conhecimento da situação na cidade e mesmo assim mantiveram a viagem.
Imil: A taxa de ocupação dos hotéis no país está muito associada ao turismo de negócios. O que é preciso ser feito para estimular o crescimento do segmento hoteleiro?
Chieko Aoki: A minha visão é que a hotelaria no Brasil está avançando. Felizmente o negócio no qual atuamos tem ótimas perspectivas de investimento, levando em conta o crescimento da economia em muitas cidades que estão se desenvolvendo. Além do segmento de negócios, certamente existe a possibilidade de evolução no setor de lazer, mas para isso é necessário planejamento e realização integrada do governo regional local, exploração de cultura com planejamento a médio e longo prazos, bem como o envolvimento de meios de transporte para facilitar a vida dos viajantes. Isso exige coordenação que seria interessante ser de iniciativa do governo local, que tem competência de movimentar diversos setores da economia.
É também importante considerar investimento no desenvolvimento de profissionais do setor de turismo e de hotelaria. Hotelaria é serviço e, para oferecer atendimento excelente com solidez e continuidade, é preciso investir na formação de hotéis com cultura forte nesse quesito. E quem faz isso são os profissionais, em diversos níveis e áreas. Temos gente naturalmente encantadora, alegre, cordial, pronta para ser polida e se tornar bom profissional.
Outros dois fatores muito importantes que precisamos levar em conta são a estabilidade econômica e acessibilidade para viajantes a lazer e negócios no país, e também a segurança, seja considerando a vertente de ambiente, ou seja, os turistas se sentirem seguros enquanto visitam o Brasil, ou a financeira, já que os investimentos feitos no setor devem durar mais de 30 anos, com alinhamento para que o retorno sobre investimentos seja veloz quando comparado ao de outros países.
Outro ponto essencial é que cada vez mais as pessoas estão conscientes sobre questões relacionadas ao meio ambiente e à sociedade como um todo. Esses pontos devem ser a base de qualquer negócio. Eles não podem ser considerados à parte, mas incorporados ao dia a dia, estando sempre em pauta.
Imil: Muitos analistas do cenário brasileiro falam sobre a existência de gargalos que impedem o crescimento de diversos segmentos econômicos. Um deles diz respeito à qualificação da mão de obra. O Brasil dispõe de profissionais preparados para atuar na rede hoteleira? Caso não, como a Blue Tree, reconhecida pela excelência e qualidade do atendimento e cuja meta é surpreender o hóspede, supre essa deficiência?
Chieko Aoki: A questão da mão de obra é sim um grande desafio para o mercado hoteleiro no Brasil. No caso da Blue Tree, nossos colaboradores que se relacionam diretamente com os hóspedes já são fluentes em um ou mais idiomas, entre eles o inglês, o espanhol e o japonês. Mas, muito mais que a fluência, nossa preocupação e nossos esforços estão voltados ao treinamento sobre as diferenças culturais e os hábitos dos povos, pois a partir disso os funcionários saberão como entregar o melhor serviço, da maneira mais adequada e na medida certa. Nós prezamos a qualidade dos serviços como nossa missão e, diante da perspectiva de receber hóspedes de diferentes nacionalidades, ao mesmo tempo e em grande número, criamos metas desafiadoras para a melhoria e inovação de nossos serviços.
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