Na véspera da divulgação completa da lista do procurador-geral, Rodrigo Janot, que relaciona políticos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras e foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma fonte da Procuradoria afirmou a “O Globo” que 10% do Senado – oito senadores dos 81 parlamentares – deve ser investigado. Dias antes, já havia vazado que o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o também peemedebista Eduardo Cunha (RJ), que preside a Câmara, estavam entre os listados e ainda nomes de ex-ministros, governadores e ex-governadores. Para Roberto Romano, cientista político da Unicamp, mesmo que a íntegra da lista não seja conhecida, a crise por conta dos desvios na estatal já afeta os três Poderes e não mais só os partidos.
– Há desconfiança do eleitorado em relação aos três Poderes e às instituições do Estado. O Executivo tem hegemonia com a compra de votos, com uma espécie de é dando que se recebe na relação com o Congresso, que, por sua vez, coloca os interesses nacionais abaixo dos regionais e trabalha com a ideia de que se tiver recurso não importa de onde vem. Mesmo o Judiciário vem aparecendo por conta de situações complicadas, como a do juiz que era responsável pelo processo envolvendo o Eike Batista. Agora, o preocupante é que essa crise não é só perda de prestígio da presidente, que aparece mal avaliada, ou dos políticos e dos juízes. É o desprestígio do regime democrático – diz Romano.
A situação delicada entre o Executivo e o Legislativo, que vem fazendo o Planalto ter uma derrota atrás da outra neste segundo mandato da presidente Dilma, contribui, segundo Romano, para que “a crise seja de longo prazo”. Ele lembra que o PMDB, que preside a Câmara e o Senado e é o principal aliado do PT, tem bases em todo o Brasil, o que o torna imprescindível para qualquer sigla que chegue ao poder. Para ele, mesmo que os nomes de Renan e Cunha sejam confirmados na lista de Janot, o partido não perderá o poder nas duas Casas e continuará mostrando sua insatisfação com o Planalto. Cientista político da PUC-RS, Emil Sobottka também avalia que o governo não conseguirá “faturar em cima” mesmo que Cunha e Renan sejam investigados pelo STF e diz ser necessário buscar uma saída para o impasse:
– O Planalto já não tem encontrado amparo também no Judiciário. No Legislativo, chegou a um nível de rompimento, e mesmo os ministros do Supremo, que de modo geral são mais contidos, já demonstram em público o descontentamento com a presidente. Fora isso, tem ainda a crise econômica, e agora parece difícil o ajuste fiscal passar no Congresso. Talvez Dilma tenha que propor uma aliança dos afogados, com aqueles aliados que estiverem na lista. Mas aí é sabendo que não é na base da confiança e sim até a próxima oportunidade de aplicar mais um golpe, de impor nova derrota.
Fonte: O Globo
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