Mesmo após acordo com governo, construtoras que atuam no programa de habitação reclamam de atrasos em repasses, abandonam obras e demitem trabalhadores
As construtoras que dependem das obras do programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida estão vivendo uma crise que começou no fim do ano passado e ainda não tem data para terminar. Mesmo após um acordo com o governo para esticar o prazo dos pagamentos – que antes era quase imediato – para até 60 dias, as empresas dizem que os repasses não foram regularizados e relatam falta de dinheiro para comprar materiais. O problema é notado em todo o país, mas concentrado no Nordeste, onde a construção civil depende mais de dinheiro público, segundo fontes do setor.
Com 4 milhões de unidades contratadas e 2,3 milhões entregues desde sua criação, o Minha Casa Minha Vida teve impacto positivo no emprego até 2014. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o programa criou 1,2 milhão de vagas. Agora, com obras paradas ou andando devagar por causa dos atrasos, as construtoras que aderiram ao programa estão cortando vagas.
O Nordeste concentrou 25% das unidades, segundo dados do Ministério das Cidades. Na região, que tem o maior desemprego do país, a construção lidera os cortes em seis Estados, segundo o Caged. Não há dados sobre o impacto do Minha Casa nos cortes. No Rio Grande do Norte, porém, o sindicato das construtoras, Sinduscon, afirma que um terço das demissões está concentrado no programa.
Segundo o presidente do Sinduscon-CE, André Montenegro de Holanda, a proporção pode ser até maior. A empresa de Holanda, a More Fácil, fez um corte radical. “Tinha 1,5 mil funcionários (no fim de 2014); agora, tenho 380.” Segundo ele, quem espera pela casa própria terá de ter paciência. “Tenho 400 unidades previstas para fevereiro que vou entregar em novembro. Isso se a situação dos pagamentos se resolver”, diz.
Até 2014, o Minha Casa Minha Vida era visto como “porto seguro” à crise da construção. Pesquisa da FGV mostra que, em dezembro, os empresários ligados ao programa tinham confiança de 96 pontos, superior à dos que dependiam do setor privado (86,6). Em junho de 2015, a situação se inverteu: os empresários do Minha Casa tinham confiança de 53,5 pontos, contra 58,8 dos privados. “Está claro que tanto os empresários quanto o objetivo social do programa serão afetados”, diz a economista Ana Maria Castelo, da FGV-Ibre.
O Sinduscon-SP prevê que o setor como um todo corte 475 mil empregos no país em 2015. Segundo o presidente da entidade, José Romeu Ferraz Neto, esse cálculo considera que os problemas no Minha Casa serão resolvidos rapidamente. “Se isso não ocorrer, o número sobe.”
O Ministério das Cidades admite os atrasos, mas diz que vai regularizar os pagamentos até o próximo dia 31.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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