Quando falamos da retomada do crescimento, falamos em como produzir mais com o mesmo número de pessoas. Isso passa pelo ambiente econômico, a estabilidade, o nível de confiança e de investimentos em geral e em tecnologia, mas também por algo mais simples -o nível de produtividade de cada cidadão. Nesta área, a qualidade da educação é fundamental, mas a motivação para fazer um bom trabalho é fator decisivo.
A deterioração do nível de produtividade, da qualidade dos serviços e do empenho em fazer um bom trabalho é pronunciada nos últimos anos e visível a olho nu.
Uma razão evidente está no que a população percebe como mau exemplo dos altos escalões públicos e privados. Os exemplos revelados no noticiário afetam o comportamento e o desempenho das pessoas.
Há muitos anos, eu trouxe ao Brasil um especialista em motivação e produtividade. Na visão dele, o que motiva o americano, por exemplo, a executar um bom trabalho é a competição e a vontade de ganhar mais dinheiro e prestígio, de chegar à frente. Toda a estrutura de trabalho americana é voltada para essa competição pessoal. Para o japonês, a motivação maior vem do trabalho em grupo, que cobra excelência de cada um para que, juntos, ganhem a competição com os outros grupos. Já em países latino-americanos que ele estivera, viu como real motivador o medo da redução salarial e da perda do emprego.
Analisando o Brasil pela primeira vez, identificou o brasileiro como afetivo, gregário por natureza, que pode se motivar com os colegas para trabalhar melhor, mas também trabalhar menos. O grupo pode servir como motivador para um melhor resultado, mas pode ter efeito contrário, funcionando como proteção ao trabalho de pior qualidade.
É muito importante, portanto, criar as motivações corretas e fazer com que o grupo influencie da melhor forma as pessoas, levando-as a produzir mais e melhor. Os resultados podem ser excepcionais.
Em minha experiência no setor público, tivemos excepcional resultado com a percepção pelos servidores da importância do resultado do trabalho para o país, os seus vizinhos e a sua família. Em resumo, o efeito do seu trabalho foi o grande motivador. O mesmo é verdade no setor privado.
O mau exemplo pode reduzir o desempenho pessoal, com graves consequências de longo prazo. Por isso é fundamental que os exemplos possam ser positivos e motivadores.
Muitas experiências e lideranças mostram que é possível transformar o Brasil num dos países mais produtivos do mundo, desde que os incentivos sejam os corretos.
Fone: Folha de S. Paulo, 20 de dezembro de 2015.
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