“A primeira coisa a fazer no Brasil é abandonarmos a chupeta das utopias em favor da bigorna do realismo”. Roberto Campos.
Basta ver a Petrobras. Onde não tem dono, donos aparecem. Nesta discussão interminável em torno da privatização das atividades supostamente empresariais, exercidas pelo Estado, falta sempre a indagação mais importante: resultado. Com efeito, as condições que acobertam as OG’s estatais (definindo: organizações governamentais travestidas de empresas) são todas opostas à eficiência. Vejamos: elas não quebram nunca; não disputam mercados; seus diretores só cuidam do tempo de seus mandatos, sem qualquer compromisso com o futuro; ter lucro ou prejuízo não faz a menor diferença; quem manda está sempre por fora, dos assuntos ou da sede; os bons funcionários só serão promovidos depois dos janeleiros apadrinhados e outras tantas impublicáveis “qualidades” . Nas empresas privadas, os bônus e salários têm relação com produtividade e são resultados de lucros obtidos. Nas estatais, basta o chefe ou a chefa autorizar.
Privatizar significa, antes de tudo, tirar poder dos políticos, privilégios dos funcionários e diretores e mamatas dos fornecedores ou prestadores de serviços. Significa tirar status de alguém, poder, dinheiro, prestígio, viagens de primeira classe e outros bichos a custa da população.
Quais os benefícios trazidos ao país pela estatais? Vejamos o caso da Embraer. Antes de passar para o lado empresarial verdadeiro, era um arremedo de empresa. Privatizada, tendo que disputar mercados, correndo risco de quebrar, pagando as mais altas taxas de juros do mundo, alcançou prestígio internacional e seus aviões nos orgulham nos céus de todo o planeta. E ainda paga impostos. Antes, voar no Bandeirantes era um ato heroico. Não quero falar na Infraero, por vergonha.
A quem pertencia a Vale antes da privatização? Um senador amigo me disse certa vez: vocês estão querendo tomar as nossas empresas. E caprichou no “nossas”. Qual a diferença de desempenho da Vale antes de ser jogada no mercado e agora? Os padrinhos das estatais não gostam de ver esses dados. Preferem a cartilha do “petróleo é nosso”, do “minério é das gerações futuras” e outras bobagens. Conheço um senhor que faliu sua empresa de transportes, quando a CSN foi privatizada. Ele perdeu a cota que tinha na usina e sua “cota” empresarial era negociada com alguém. A CEG, aqui no Rio, era um poço de ineficiência. Nas mãos privadas, o serviço é de primeiro mundo.
Certamente nenhum dos “estatizantes” pagou à antiga Telerj (que, graças a Deus, se foi) quarenta e oito prestações para ter um telefone, sem nunca tê-lo recebido, a não ser irritadas respostas quando à busca do que era seu. Hoje tem mais celular do que gente e ainda não foi medido o impacto na economia pelo fato de tantas pessoas, das mais humildes às mais potentadas, poderem fazer comunicação e negócios a qualquer hora e lugar. Há pouco tempo, eu estava engraxando os sapatos, quando ouvi um catador de lixo acertando, orgulhoso, uma retirada de material com o seu smartphone. E as “esquerdas” (é assim que eles se chamam) eram contra a privatização da telefonia.
Como é possível que os brasileiros paguem o mais alto preço pelo combustível de seus carros, fogões e máquinas, quando o petróleo tem o menor valor em trinta anos? Quantos funcionários, verdadeiramente úteis a seu dia a dia, necessita a Petrobras se os jornais noticiaram a demissão recente de mais de cem mil pessoas? O que faziam? Foram indicadas por quem? Eram importantes para o país ou para si próprios e seus patrões? Quanto custa ao país manter ou ter comprado Pasadena? Quanto custou a Refinaria de Pernambuco e quanto gastaram só nos projetos das unidades de refino no Maranhão e Ceará? E os Cieps? Quantos foram feitos e quantos funcionam? É inteligente privatizar todos e receber o preço em bolsas.
Ainda não falei da imensa capacidade corruptora das estatais, pois este assunto abunda (sic) na imprensa livre. A falta de compromisso com o futuro faz com que gerentes e diretores estatais usufruam de imorais vantagens pessoais, enquanto exercem seus cargos, pois seus horizontes não ultrapassam o tempo de seus mandatos. Muito diferente do setor privado, onde os donos preparam seus negócios para seus filhos e netos, ao longo de muito tempo de trabalho, enfrentando o risco, investindo na marca, na produtividade e no lucro. Seus filhos e netos progredirão, se capazes, ou serão expulsos impiedosamente do mercado, se não tiverem capacidade empresarial. Já, nas estatais, é diferente. Apenas para ilustrar: conheço um cidadão que, ao se aposentar de uma grande estatal, deu uma festa para comemorar.
Estava “agradecido” a um chefe que, há dez anos passados, o colocou na “geladeira”. Mas com sala, secretária, telefone, cafezinho e tempo livre para fazer seus negócios. Particulares, é claro.
É muito interessante, se não fosse trágico, observar o comportamento dos inimigos da privatização, quando se trata de interesses pessoais. O que usam? Hospital público ou particular? Onde estudam seus filhos? Escola pública ou particular? O dinheiro é a única coisa pública que usam e abusam.
O enfoque principal neste processo de retirada da presença do Estado da função empresarial é a análise da relação custo X benefício. A quem fundamentalmente beneficiam as estatais? Qual o valor de retorno aos acionistas (o povo) dos investimentos realizados? Quem cobra eficiência no dia a dia das supostas empresas? Quem nomeia e demite diretores e gerentes?
A ‘mamata’ é antiga. E o Brasil continua ocupando lugar vergonhoso no ranking das nações. Sem copiar o que presta, o que inova, o que engrandece, o que realmente educa, para continuar nesta busca incessante da mediocridade.
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