Metas de inflação são bastante utilizadas pelos bancos centrais mundo afora. Em países com inflação moderada, esse regime ajuda a manter a inflação bem comportada, com menor custo para a atividade econômica. Em países com inflação baixa, o risco de deflação pode ser mitigado com uma meta adequada, como a de 2% nos EUA. A política monetária torna-se também mais previsível, contribuindo para um ambiente econômico estável.
A meta de inflação no Brasil está em 4,5% desde 2005; patamar acima da média mundial (3,8% nos emergentes). México, Colômbia e Chile adotam 3%. Peru, 2%.
Não é possível definir a meta ideal. Um patamar muito baixo traz riscos. Para emergentes, que são mais vulneráveis a choques inflacionários, uma meta muito baixa poderia tornar a política monetária muito errática. Meta de inflação muito alta, por outro lado, sugere pouco compromisso do banco central com inflação baixa, reduzindo a eficácia do regime para estabilizar a economia.
Com a inflação em queda no Brasil, discute-se a oportunidade de reduzir a meta de 2019, a ser definida este ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
A defesa da redução parte do diagnóstico de que há uma “gordura” na meta atual que pode ser facilmente removida, sem sacrifícios em termos de juros mais elevados no curto prazo. Isso porque ocorreria uma redução automática das expectativas inflacionárias para 2019, impulsionada pela ociosidade na economia e pela credibilidade do Banco Central. Uma meta mais baixa, e crível, poderia permitir a redução da taxa de juros ao longo do tempo. Eventualmente, já no curto prazo, ao contrário do esperado. Haveria, portanto, uma janela de oportunidade para redução da meta, em boa medida por condições conjunturais.
Há quem defenda a manutenção da meta atual em função do risco fiscal ainda existente e dos gargalos do País, sendo necessário aguardar uma melhora efetiva dos fundamentos para reduzi-la. Uma meta menor não seria crível. O argumento enfatiza os desafios estruturais.
No médio prazo não há muitas dúvidas de que a meta deve ser reduzida. Seria importante caminhar para patamares observados nos demais países. Um passo essencial para ter taxas de juros nominal e real (descontada a inflação) mais baixas. Inflação mais elevada é também inflação mais volátil e rígida, o que pode, de quebra, estimular uma política fiscal descuidada. Todos são elementos que pressionam as taxas de juros.
A agenda econômica do País avança, abrindo espaço para redução da meta, senão agora, em breve. Para a decisão deste ano, no entanto, a recomendação não é tão óbvia. Na falta de recomendação clara, convém analisar o custo do erro em cada escolha, para avaliar qual deles seria mais tolerável nas atuais circunstâncias.
Se houver gordura e nada for feito, perde-se uma oportunidade que poderá não aparecer tão cedo. Se não houver gordura e a meta for reduzida, a taxa de juros será mais elevada no curto prazo. O custo pode ser relevante.
O País está em momento de transição. Há reformas importantes ainda a serem aprovadas e, em 2018, justamente quando o BC estiver perseguindo a meta de 2019, terá eleição. O quadro eleitoral poderá ser ruidoso, com pressão na taxa de câmbio e na inflação. Mudar a meta precocemente implicaria não cumpri-la já de saída ou enfraquecer uma economia ainda ganhando tração.
Seria também conveniente confirmar a inflação na meta este ano, depois de sete anos de desvio. Se o cenário de inflação for confortável, a banda inferior da meta (3%) poderá ser utilizada, construindo o caminho para uma meta mais baixa em 2020. Outra opção seriam cortes mais contundentes da taxa de juros.
Visões muito “curtoprazistas” não costumam ser boas conselheiras. No entanto, em função da fragilidade da economia e dos possíveis ruídos em 2018, manter a meta neste momento parece ser mais sensato. Não é possível dizer se é o mais correto. Apenas mais cauteloso.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 2 de março de 2017.
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