RIO – Assim como ocorreu em 1993 e 1994, com o Plano Real, a agenda liberal e pró-mercado na economia voltou a ganhar força e poderá ser destaque nas eleições de 2018. A avaliação é do economista Gustavo Franco, estrategista-chefe da gestora Rio Bravo Investimentos, ex-presidente do Banco Central (BC) e colunista do Estado. Integrante da equipe que desenvolveu o plano que acabou com a hiperinflação, Franco quer ter voz na nova onda liberal. Em setembro, o economista anunciou a saída do PSDB e a filiação ao Partido Novo.
Baseada num de seus cursos na PUC-Rio, a obra, de cerca de 850 páginas, traça a história monetária da economia brasileira, de 1933 a 2013. A hiperinflação e a desorganização da economia são as marcas até o início dos anos 1990. A estabilização e a consolidação do arcabouço institucional de uma economia organizada são os destaques da segunda parte da história.
A parte final tem traços de déjà-vu. Para Franco, a recessão de 2014 a 2016 foi construída por erros dos governos do PT, especialmente da ex-presidente Dilma Rousseff. “Parece fora de dúvida de que o retrocesso conceitual materializado pelas inovações introduzidas pela nova matriz configurou um conjunto formidável de erros e trapalhadas autoinfligidas sem qualquer precedente em nossa história, e de efeito devastador sobre a economia”, diz um trecho do livro.
Na história monetária do Brasil, Franco identifica um vaivém da agenda liberal e pró-mercado, cujo último sopro começou no Plano Real, em 1994, e se consolidou no período de 1998 a 2008. Para o economista, os erros de 2012 nada têm de novo, apesar do uso do termo “nova matriz econômica” para definir a política econômica de Dilma. “Falamos em nova matriz, mas deveria ser velha matriz”, disse Franco. O “ataque à responsabilidade fiscal” feito por Dilma se parece muito com outros do “desenvolvimentismo inflacionista”.
Na visão de Franco, as instituições que deram um arcabouço estável para a economia após as reformas do Plano Real e dos anos subsequentes resistiram bem aos erros da política econômica. Tanto que, “para fazer o abuso que o governo Dilma patrocinou, foi preciso fazer ilegalidades, que, em última instância, custaram o seu mandato”.
Agora, assim como em 1994, o ambiente voltou a ficar favorável à agenda liberal. “Essas ideias estão no ar. Chegou a vez delas. Isso é meio cíclico, teve lá, na época do (Plano) Real, uma primeira respirada desse tipo de ideias, das reformas. Agora, acho que elas vêm de novo forte”, disse Franco.
O próprio fato de um governo liderado pelo PMDB ter aderido a políticas pró-mercado é um sinal disso. Para Franco, o “PMDB não tem esse DNA” liberal e até o PSDB “está na dúvida”. “O Jair Bolsonaro está fazendo um esforço para atrair para si a ideia de que também está no campo liberal na economia. É hoje a ideia que todo mundo quer cortejar”, afirmou.
Candidatura. Nesse quadro, o Partido Novo, que lançou neste mês o ex-executivo do mercado financeiro João Amoêdo como pré-candidato à Presidência da República, quer se estabelecer como a única agremiação de fato comprometida “com a ideia de uma economia de mercado regida pela liberdade no contexto da democracia”, disse Franco.
O economista, que era filiado ao PSDB desde 1989, se disse desiludido com a dificuldade do partido de assumir a defesa dessas ideias e com a decisão de se manter na base de apoio ao governo Michel Temer, apesar das acusações de corrupção.
Fonte: “Estadão”
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