Depois da falta do debate econômico que marcou a disputa ao Palácio do Planalto nas eleições de 2014, um trio de economistas liberais – Ana Carla Abrão, Marcos Lisboa e Vinícius Carrasco – vai lançar em março uma série de artigos sobre os grandes problemas econômicos da atual conjuntura brasileira. A proposta da Agenda de Política Pública Brasil é fazer o diagnóstico e traduzir os temas áridos para alimentar as discussões (antes e depois das eleições) que tratam das dificuldades com as quais o país convive e que não devem arrefecer, mesmo após eleger o novo presidente da República, governadores e parlamentares. O que se espera, desta vez, é que os candidatos não tenham como fugir do debate diante do tamanho da crise.
O papel de Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, será o de “sounding board”, a pessoa que ouve as novas ideias e faz a validação da abordagem e dos temas. O trabalho será publicado pela consultoria Oliver Wyman, sem patrocínio externo, justamente para garantir independência e imparcialidade, afirma Ana Carla Abrão, ex-secretária de Fazenda de Goiás. “Não podemos deixar que o debate em 2018 passe ao largo dos problemas reais, como foi em 2014. Nossa intenção é trazer os principais temas para o centro do debate público e jogar luz para questões que são fundamentais para que o País supere o atraso”, diz Ana Carla, que é sócia da Wyman no Brasil.
O grupo de economistas diz que a iniciativa é apartidária e faz questão de ressaltar que não se trata de um programa de governo com receituário pronto para os candidatos. Em março, serão abordados os seguintes temas: reforma do Estado, equilíbrio fiscal, infraestrutura, bancos públicos, mercado de crédito, educação e segurança pública. Na sequência, serão divulgados trabalhos sobre as reformas tributária e previdenciária. A iniciativa lembra a “agenda perdida” também elaborada por um grupo de economistas, que trazia um diagnóstico com propostas para o crescimento com maior justiça social e pautou as eleições de 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio da Silva foi eleito. O presidente do Insper Marcos Lisboa, que foi um dos coordenadores do trabalho ao lado de Alexandre Scheinkman e depois secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda de Lula, diz que a atual proposta é diferente.
Linguagem
Segundo ele, os trabalhos vão sistematizar o que a produção acadêmica tem a dizer sobre vários temas, além das experiências públicas já vividas, mas com linguagem mais simples que possa ser útil ao debate nacional. “A maneira de fazer a política pode ser relevante para o sucesso ou fracasso de uma política”, avalia. No governo Lula, Lisboa preparou uma agenda de medidas microeconômicas para o crescimento. “O Brasil está vivendo um debate sobre grandes orientações.”
Para o economista da PUC-RJ Vinícius Carrasco, não será possível desviar das grandes questões econômicas, como a necessidade de reforma do Estado. “Pelo contrário, os próximos anos serão duros e com escolhas duras”, afirma. “Em 2014, se ignorou as questões que eram relevantes e quem ganhou, ganhou perdendo.” O economista destaca que é preciso repensar o Estado com a preocupação de distribuição de renda. “Acredito na redução dos subsídios, na abertura comercial, na competição e sou fã do Bolsa Família.”
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