Incluída na reforma política aprovada pelo Congresso no ano passado, a janela partidária foi criada para permitir a troca de partido, durante um prazo de 30 dias, às vésperas das eleições, sem o risco de perda de mandato por infidelidade. O fato de o financiamento das campanhas deste ano ser majoritariamente público, porém, fez com que o aspecto financeiro tomasse conta das negociações. Parlamentares dos partidos que devem sofrer baixas acusam legendas adversárias de oferecerem entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões para seduzir deputados.
O PSB já perdeu quatro parlamentares e deve perder mais quatro essa semana para o DEM do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ).
— Esse movimento dos que saem é mais pragmático do que programático. Nessa janela o pessoal vai se assanhar com o toma lá, dá cá. O leilão está grande e as conversas são de que o PR, PSD, DEM e PP estão oferecendo de R$2 milhões a R$ 2,5 milhões para as campanhas — diz o líder do PSB, deputado Júlio Delgado (MG).
O PSB é visto como um dos partidos que deve sair mais enfraquecido da janela. Antes da abertura do período, porém, recebeu dois deputados, Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR). Com isso, a Rede de Marina Silva , de onde os dois saíram, tem hoje apenas três deputados, o que a excluiria da participação em debates nas eleições de outubro. O número mínimo exigido é de cinco representantes na Câmara. O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) diz que debate sem Marina é “farsa” e promete ir até ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar garantir sua participação. Ele afirma que a Rede a não entrará no “leilão” do troca-troca.
— Já deixamos de filiar uns poucos, por divergências programáticas. Não queremos quantidade a qualquer preço. Nossa preocupação é eleger deputados. Não capturá-los. Para vir, tem que merecer — diz Miro.
O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), não nega que os valores oferecidos sejam esses. Ele confirma que a prioridade da legenda é a bancada de deputados federais. É por essa bancada que são divididos os recursos do fundo partidário e o tempo de televisão nas eleições.
— Vamos criar uma comissão para apresentar na reunião da Executiva como será gasto o dinheiro dos fundos partidário e eleitoral. Não resta dúvida que o Progressistas, pela sua história, pela maioria da Executiva, vai priorizar eleição de deputado federal. É imprevisível ( quantos vão para o PP) — diz Ciro Nogueira.
Para conter uma revoada de tucanos, a Executiva Nacional do PSDB discutirá na próxima quinta-feira a distribuição do fundo, mas os dirigentes dizem ser impossível competir com partidos que não terão candidatos a presidente.
— Quem tem candidato a presidente terá mais dificuldade. Dentro da economia que o PSDB vem fazendo, serão mais de R$ 500 mil, mas muito menos do que o DEM, por exemplo, que está falando em R$ 2 milhões. Devemos ficar entre 60% a 70% disso. É difícil segurar nessa janela. Nosso diferencial é que temos um candidato competitivo a presidente, com palanque forte, que pode carregar os candidatos a deputado — disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Nilson Leitão (MT).
No PSDB, segundo o deputado Daniel Coelho (PE), deputados estão ouvindo e analisando o quadro de propostas de outros partidos. Ele avalia deixar o partido rumo ao PPS por questões regionais, mas ainda não bateu o martelo.
— Acho que quase todos estão analisando o quadro e ouvindo propostas. Não tenho escondido que minha situação está indefinida. Difícil dizer, quem ou quantos, pois cada um está tendo cautela em suas conversas. Eu tenho admitido publicamente a possibilidade, como admito permanecer no PSDB — disse Daniel Coelho.
Com a proibição de doações de empresas para as campanhas, o financiamento será feito pelos fundos eleitoral e partidário, além de contribuições de pessoas físicas.
Fonte: “O Globo”