O Banco de Desenvolvimento da América Latina acaba de divulgar neste último dia 15 de agosto um documento que traz interessantes lições para lidar com o problema do abandono escolar. Divulgado em sua versão original em espanhol, o estudo “Políticas para promover la culminación de la educación media em América Latina y el Caribe” analisa diversas intervenções realizadas nos últimos anos no Chile e no México.
Dentre os vários temas abordados, três aspectos chamam a atenção. O primeiro deles é a continuidade, consistência e pluralidade de meios que os dois países vêm desenvolvendo para lidar com o grave problema da deserção escolar. O segundo são os desafios e a resiliência que o fenômeno apresenta: as causas são múltiplas e variadas, não existe uma solução única ou fórmula mágica. O terceiro é o cuidado em rever a literatura científica sobre o tema para calibrar e focar as intervenções.
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Embora de natureza descritiva e qualitativa, o estudo ilumina pelo menos três conjuntos de importantes questões. Um deles são os seculares desafios de implementação: dificuldades, barreiras e resistências que existem entre a geração de uma ideia e sua implementação no campo, especialmente levando em conta o emaranhado de instâncias burocráticas. Nenhum país escapa das suas burocracias, e é elevado o preço a pagar. Outro aspecto ressaltado no relatório é a falta de instrumentos diferenciados para lidar com o problema de gênero – apesar dos diagnósticos apontarem para causas bastante diferentes que levam rapazes e moças a abandonar a escola. E, finalmente, chama atenção a ênfase crescente no desenvolvimento de instrumentos e estratégias para diagnóstico precoce.
Documentos desta natureza e qualidade são sempre bem-vindos. Este documento, em particular, é bastante oportuno especialmente no momento em que o Brasil se prepara para adotar novas politicas e estratégias para o ensino médio e, nos próximos dias, se verá diante dos resultados de mais uma rodada de resultados da Prova Brasil. Definir problemas com rigor, rever a literatura científica, estabelecer programas com foco claro, diferenciar estratégias são condições necessárias para que uma intervenção possa vir a ter sucesso. Mas isso não basta: é preciso implementar – superando os desafios de agir no mundo real – e avaliar os resultados de maneira rigorosa, inclusive e especialmente tendo em vista a possibilidade de implementar inovações em larga escala. Prudência e caldo de galinha… não fazem mal a ninguém.
Fonte: “Veja”, 16/08/2018