Nas últimas décadas, nosso comércio internacional tornou-se instrumento de implementação de uma agenda que possui um corte profundamente ideológico. Está claro que nossas trocas comerciais precisam, ao contrário, seguir parâmetros objetivos e pragmáticos, interagindo com nações que convergem com nosso país dentro de uma agenda profícua que gere resultados positivos de forma mútua e inteligente.
Nossa natural e histórica parceria com os Estados Unidos sofreu abalos profundos nas últimas décadas, quando nosso comércio tomou contornos mais ideológicos. Ao resgatar esta relação e diversificar os parceiros comerciais, nossa economia tende a tornar-se mais sadia e ampla. Neste sentido, muitas frentes podem ser abertas em flancos negligenciados por governos que sempre preferiram inserir a ideologia como elemento essencial de nossas trocas comerciais.
As frentes que podem ser trabalhadas são inúmeras. Entretanto, um caminho promissor neste sentido é intensificar os esforços de facilitação do comércio e de convergência regulatória, o que implica em fazer uma boa interface entre a Embaixada em Washington, os canais de diálogo diplomático e comerciais do governo brasileiro, de modo a identificar as mudanças e o tipo de modernização que necessitamos empreender para que nossos padrões convirjam.
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Na área de facilitação, por exemplo, é importante avançar no sentido de que os portais de comércio exterior de ambos os países se comuniquem, de modo a poupar tempo, reduzir burocracia e baixar custos para os operadores do comércio exterior entre os dois países. Medidas que podem destravar canais hoje obstruídos em nossa rota comercial.
O momento também é propício para voltar a discutir um acordo de investimentos que propicie mais segurança jurídica e ajude a atrair novos investimentos dos Estados Unidos para diversos setores, inclusive infraestrutura. Importante fazer coincidir essa proposta com esforço redobrado para explicar, a potenciais investidores, nossos marcos regulatórios mais amigáveis ao empreendedor. Isso pode se dar por meio da realização de série de encontros empresariais e eventos em câmaras de comércio e “think tanks” para divulgar oportunidades de investimento e recolher demandas de empresários no tocante ao tema regulatório.
Aquele investimento que não exige contrapartidas regulatórias e um ambiente de negócios sadio certamente carrega uma agenda política paralela encoberta pelo comércio. O Brasil precisa estar atento a estes movimentos. Ao negociar e atrair investimentos de qualidade, originados de países que dividem conosco o mesmo apreço por regras estáveis e relacionamentos econômicos de longo prazo, nosso país estará se posicionando de maneira correta no cenário internacional. Uma parceria de qualidade com sócios confiáveis e interesses comuns aumentará nossa pauta exportadora, diversificará nossa matriz e incrementará nossa capacidade atual. Um movimento
que mexe com interesses preestabelecidos, mas que impulsiona o país no longo prazo para um novo patamar no comércio internacional.
Fonte: “O Tempo”, 24/12/2018