O Brasil respira aliviado. A candidata que lidera as pesquisas para presidente não é nada daquilo que você estava pensando. Você é um maldoso.
Dilma Rousseff é uma flor de pessoa. Um doce de coco. Depois de assistir à sua aparição no primeiro dia do horário eleitoral, não há o que temer. Se ela for eleita, o Brasil será um lugar aconchegante – quase um útero materno.
Todas as fotos fofinhas de álbum de família, desta vez, pareciam ser dela mesma. A famosa foto de Norma Benguell, sua dublê nas passeatas de 68, ficou fora da edição. Em compensação, o Brasil conheceu o cachorro de Dilma Rousseff.
Essa mulher tenra que, como sabemos agora, vive imersa num mar de sentimentos bons, que tem cada passo guiado pelo amor ao próximo (não ao próximo cargo, como alguns imaginavam) – essa mulher, enfim, tem um cachorro.
E a julgar pelo tempo ocupado pelo animal no horário político, ele é quase tão importante quanto Lula. O ex-governador Olívio Dutra aparecia dizendo que Dilma é ótima para trabalhar em equipe, e lá vinha o cachorro, obediente, trazendo de volta o objeto atirado pela dona. Um argumento e tanto.
Nas imagens de harmonia e felicidade entre Dilma Rousseff e seu cão fiel, não aparece nenhuma patada – daquelas que a dona costumava dar em seus interlocutores, especialmente jornalistas. Pelo visto, foi tudo um mal-entendido. A ex-ministra de Lula que reapareceu no horário eleitoral só tem paz e amor no coração.
A prova disso é o seu sorriso de menina ao contar que viu, aos 17 anos, o Brasil cair nas mãos dos militares. Ela estava na escola, e a agitação do momento político a encantava. Dir-se-ia que Dilma estava narrando uma gincana colegial. Depois foi presa, e também na prisão aprendeu a viver em harmonia.
O Dalai Lama ia morrer de inveja de tanta serenidade.
Na vida da verdadeira Dilma, que finalmente conhecemos graças ao emocionante filme feito por seus marqueteiros, não há nem sombra de autoritarismo. Aquela megera que invadia a Receita Federal para mandar ajudar o Sarney, que organizava dossiês contra adversários políticos, que conspirava com os companheiros chavistas contra a imprensa burguesa, que fraudava seu próprio currículo para virar doutora – essa mulher, felizmente sabemos agora, não existe.
Quem existe é a mãe zelosa, que tem basicamente duas preocupações na vida: o sono de sua filha única e a proteção aos pobres.
Lula disse, no programa, que bastou um único encontro com Dilma em seu gabinete para transformar a desconhecida em ministra. A bondade realmente é um dom irresistível.
E lá vai o Brasil às urnas, embalado por essa cantiga de ninar. Um dia ele acorda.
(Publicado no blog de Guilherme Fiuza no portal da revista “Época”)
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