Os percalços enfrentados pela indústria nacional em 2019 fizeram o Brasil figurar na 33ª colocação num ranking internacional de crescimento da produção industrial, composto por 44 países. A lista foi elaborada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e obtida com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
O ranking considera a produção acumulada de janeiro a outubro de 2019, a partir de dados dos próprios países, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Eurostat, o órgão de estatísticas da União Europeia (UE). A indústria brasileira acumulou um recuo de 1,1% no período, ficando à frente de países industrializados como Japão (-1,7%), Coreia do Sul (-1,8%) e Alemanha (-4,0%), mas consideravelmente abaixo da mediana da amostra considerada, com alta de 0,9%.
Últimas notícias
PIB do Brasil deve terminar a década como o 9º maior do mundo
As 12 startups mais influentes da última década, para o bem ou para o mal
Leilão de rodovia em SP é bom presságio para 2020, dizem especialistas
Embora haja recuperação do consumo das famílias brasileiras, a demanda por investimentos ainda não mostra recuperação consistente, o que prejudica a indústria nacional, em meio a um cenário externo também desfavorável, explicou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.
“O ambiente externo desfavorável gera dois efeitos: dificulta a gente exportar e, como acirra a concorrência internacional, os países com maior competitividade tendem a traçar estratégias mais agressivas para entrada no Brasil. Então existe um ambiente concorrencial lá fora, mas aqui dentro também”, explicou Cagnin.
“Boa parte daquilo que a indústria produz, em muitos ramos são bens voltados à Formação Bruta de Capital Fixo. Ou seja, é investimento. E mesmo que tenha alguma reação, a base (de comparação) é muito baixa”, completou.
Apesar de ter decepcionado as previsões de especialistas na virada do ano, o resultado da indústria brasileira no acumulado de janeiro a outubro foi ligeiramente melhor do que era de janeiro a setembro, quando a produção acumulava um recuo de 1,4%, ocupando a 35ª colocação no ranking.
O saldo negativo no dinamismo industrial do Brasil sucede um crescimento de 1,0% no acumulado de 2018 e avanço de 2,5% no acumulado do ano de 2017.
A perspectiva para 2020 é favorável, avalia Cagnin, que prevê um avanço entre 1,5% a 2% na indústria brasileira em 2020.
“No fundo, o cenário é de resgate da trajetória de recuperação, que foi interrompida do terceiro trimestre de 2018 ao segundo trimestre de 2019. A gente deve retomar essa trajetória de recuperação lenta, mas um pouco mais consistente do que foi em 2019”, estimou o economista-chefe do Iedi.
No entanto, ainda não está no radar que a indústria brasileira recupere todas as perdas acumuladas durante a crise.
“Vai demorar um tempo. Não está no script pros próximos anos uma recuperação completa. A gente tá num nível algo como 12% abaixo do pico lá atrás, do período pré-crise. Crescendo 1,5% e 2%, a chance de completar 12%…”, lembrou Cagnin.
A piora no desempenho da indústria brasileira em 2019 não foi um fenômeno isolado. A produção industrial mundial também desacelerou, passando de uma alta de 2,2% no primeiro trimestre de 2019 a elevação de 1,2% no terceiro trimestre, na comparação com igual período do ano anterior.
+ “A burocracia e a aversão ao risco são tragédias para a produtividade”
Entre as nações industrializadas, a produção saiu de crescimento de 0,4% de janeiro a março para queda de 0,5% de abril-junho, seguida de recuo de 0,7% de julho a setembro de 2019. Se consideradas as economias emergentes ou em desenvolvimento, com exceção da China, a produção desacelerou de uma elevação de 0,9% no primeiro trimestre para uma taxa de 0,2% no terceiro trimestre de 2019.
Segundo o Iedi, o que preocupa em relação ao Brasil é o fato de o setor industrial local ter passado por uma aguda crise de 2014 a 2016, e ainda assim ter voltado a registrar perdas na produção durante o processo de recuperação.
“É uma desaceleração em cima de uma base de comparação já muito baixa, que foi a da crise de 2014 a 2016. Então tem outro significado esse movimento de perda de ritmo no Brasil. Também existe no resto do mundo, mas no Brasil é diferente porque não só a indústria está no negativo como também saiu de uma crise muito profunda”, argumentou Cagnin.
Fonte: “Estadão”