Entre as doações mais comuns feitas pelo setor privado para a luta contra a Covid-19 estão toneladas de álcool em gel, milhares de kits com equipamentos de proteção pessoal e até testes para a detecção do novo coronavírus. É uma ajuda necessária, que tem aplacado as dificuldades de estados e municípios em situação mais precária no combate à pandemia. Nesse cenário, chamou atenção a iniciativa anunciada pela JBS, colosso do setor frigorífico que lamentavelmente ganhou visibilidade pela relação pouco transparente com os governos do PT e de Michel Temer. Agora num ato de incomum generosidade, a empresa controlada pela família Batista doou 700 milhões de reais — a segunda maior feita por uma corporação brasileira, atrás apenas do 1 bilhão de reais doados pelo Itaú — para, entre outras finalidades, o desenvolvimento de novas tecnologias que possam auxiliar no diagnóstico e no tratamento de pacientes com a síndrome respiratória. Com esse apoio, um grupo de especialistas seleciona projetos elaborados por empresas inovadoras e de pequeno porte, as chamadas startups, que oferecem produtos ou serviços tecnológicos. “Assim como as guerras, as pandemias impulsionam o pensamento inovador”, diz Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein e um dos curadores dos projetos que serão financiados.
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A louvável iniciativa da JBS lança luz sobre um setor pouco conhecido e que já apresenta resultados promissores na luta contra a Covid-19. Estima-se que existam cerca de 300 startups de saúde em atividade no Brasil — pequenos negócios conhecidos também como healthtechs. Dessas, sessenta têm boas perspectivas de crescimento, de acordo com monitoramento feito por grupos interessados em investir nas inovações. Faz parte desse time a Hi Technologies, criadora do laboratório portátil chamado Hilab. O equipamento nasceu em 2016 para realizar testes sorológicos de diagnóstico e avaliação de doenças como diabetes e zika. O Hilab analisa as amostras coletadas dos pacientes em minutos por meio de inteligência artificial, com o apoio de uma central remota de biomédicos e bioquímicos. Em março, o aparelho começou a ser utilizado para a identificação de anticorpos contra a Covid-19 no sangue. Com a atualização para fazer frente à pandemia, a Hi Technologies mais do que duplicou sua abrangência de cidades atendidas no país. “O coronavírus tem nos levado a identificar rapidamente iniciativas prontas para atingir grandes mercados”, diz Raphael Augusto, diretor de inteligência da Liga Ventures, aceleradora de empresas desse tipo.
O próprio Hospital Albert Einstein tem funcionado como uma espécie de incubadora dessas startups. Atualmente, são 45 healthtechs inscritas nos programas de financiamento e mentoria da instituição. Um dos protótipos nascidos por ali leva o nome de Fevver e permite a aferição da febre a 2 metros de distância. Instalado em um totem, o equipamento reconhece pontos de calor no rosto do paciente e oferece mais precisão do que os termômetros comuns. Já em operação no Einstein, o aparelho será instalado em prédios comerciais de São Paulo nos próximos meses. Outro projeto, Breath4Life, utiliza impressoras 3D para a produção de respiradores. Essa estratégia faz com que as máquinas voltadas para doentes com manifestações leves e intermediárias da Covid-19 tenham custo inferior ao dos ventiladores mecânicos tradicionais.
Antes mesmo da eclosão da pandemia, as healthtechs chamavam atenção de universidades, bancos e gigantes da tecnologia, como o Google. Entre 2014 e 2018, os investimentos no setor mais do que dobraram em todo o mundo e chegaram a 14,6 bilhões de dólares. Com a Covid-19, esse movimento tem se acelerado. “Todos os fundos de investimento estão olhando e apostando na saúde”, diz Julia De Luca, especialista em tecnologia do Itaú BBA. Nesse sentido, doações como a da JBS não apenas ajudam no combate ao coronavírus como também dão impulso a um setor crucial para o país.
Fonte: “Veja”