O jornal “O Globo” publicou o editorial abaixo defendendo uma tomada de providências diante da crise europeia: “Mesmo sem ter feito reformas importantes que aumentassem a capacidade de competir no mundo globalizado, o Brasil foi beneficiado pelo ciclo de crescimento, puxado por uma China ávida por matérias-primas. O país passou a ser fornecedor importante de minérios e alimentos dos chineses, resgatou a dívida externa e, como é de nossa tradição, deitou em berço esplêndido.
Deveria despertar agora que o cenário externo leva a crer que durante muito tempo o Brasil não se beneficiará de uma conjuntura de expansão mundial, que mascarou suas deficiências. O tema está agenda do economista Paulo Rabello de Castro, do Movimento Brasil Eficiente (MBE).”
Leia na íntegra:
Crise mundial impõe corte de impostos
Depois de vários fins de semana sombrios para a economia mundial, o acerto fechado na Europa na madrugada de quinta-feira, com o abatimento de 50% da dívida grega de posse do mercado, inevitável, gerou algum ânimo em todos os continentes.
A crise de dívidas soberanas, com uma ligação bancária umbilical, não está resolvida, mas foi movida uma peça-chave na direção certa. Sem deságio de dívidas — como o Brasil já bem demonstrou na década de 90 —, o devedor não paga, aperta os cintos, mas sua economia também não cresce para um dia poder resgatar o débito. Cai-se num atoleiro.
Há quem preveja uma década para que a Europa faça a digestão deste enorme passivo a descoberto. E mesmo que os Estados Unidos, cuja economia tem justa tradição de agilidade nas recuperações das crises, retome algum vigor, o mais provável, o mundo ainda não conseguirá enxergar no horizonte a volta de um tempo de bonança como foi a virada da década de 90 para os anos 2000, até 2007/2008, quando o anunciado estouro da bolha imobiliário-financeira americana aconteceu, numa explosão que alguns subdimensionaram.
Mesmo sem ter feito reformas importantes que aumentassem a capacidade de competir no mundo globalizado, o Brasil foi beneficiado pelo ciclo de crescimento, puxado por uma China ávida por matérias-primas. O país passou a ser fornecedor importante de minérios e alimentos dos chineses, resgatou a dívida externa e, como é de nossa tradição, deitou em berço esplêndido.
Deveria despertar agora que o cenário externo leva a crer que durante muito tempo o Brasil não se beneficiará de uma conjuntura de expansão mundial, que mascarou suas deficiências. O tema está agenda do economista Paulo Rabello de Castro, do Movimento Brasil Eficiente (MBE).
Em entrevista ao GLOBO, Paulo Rabello tachou, com razão, de “catástrofe competitiva” a carga de impostos sobre as empresas brasileiras.
O mundo e a China, em particular, desaceleram. As exportações de produtos primários tendem a perder fôlego. Há risco até de déficits comerciais, desvalorização mais acelerada do real, volta de maiores pressões inflacionárias. Este é um cenário, traçado por Rabello de Castro, diante do qual Brasília pode fingir sangue-frio, mas tem de agir.
O ponto chave, defende o economista, na questão da competitividade, é a carga de impostos, mais que a própria logística. Pesquisa do Brasil Eficiente indica um custo 30% superior dos produtos brasileiros em relação a uma média de seis países (EUA, França, Inglaterra, Austrália, África do Sul e China). O Brasil tende a ficar fora de mercado.
E para compensar todas as deficiências da economia brasileira — impostos em primeiro lugar, segundo Rabello de Castro — o câmbio teria de ser R$ 2,48 (está em R$ 1,70). Seria um choque inflacionário de razoáveis dimensões.
A proposta do Brasil Eficiente é de uma redução da carga tributária, estimada pelo movimento em 33,56% , em um ponto percentual por ano até o nível de 30%. Seria grande incentivo à competitividade do país, que se encontra em baixa.
Quem tem dúvidas deve estudar o exemplo alemão. Diante da competição do Leste da Europa, reduziu o Custo Alemanha (legislação trabalhista, previdência, etc.) e estancou a migração de fábricas e empregos. Grécia, Portugal, Espanha e Itália nada fizeram. A atual crise já mostrou quem estava certo.
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