Os rumores aumentam sobre a possível desaparição do sistema racionado de produtos alimentícios. Entre o temor e a espera, alguns afirmam que já no começo de 2010 a cota de sal e açúcar será história passada e que a liberalização destes – e outros – alimentos nos cairá em cima. Os que se assustam ante tal possibilidade não imaginam uma vida sem o subsídio do Estado, sem as muletas do subvencionado. Eu mesma nascí inscrita numa caderneta onde se anotava cada grama do que se devia levar à minha boca. Se tivesse crescido só com o regulamentado, teria um corpo mais enfraquecido do que exibo agora. Por sorte a vida tem maior quantidade de opções do que os quadradinhos onde – cada mês – o merceeiro marca as mínimas rações que nos cabem.
Um cálculo simples me leva a pensar que se as 66 milhões de libras de arroz que se distribuem cada mês, pelo racionamento, fossem parar no mercado livre, os preços deste último baixariam. Poder-se-ia decidir então se, ao invés do repetitivo cereal, comprariamos batatas ou verduras e já ninguém exclamaria “levo tudo que me dão para casa, melhor do que deixar na mercearia”. Além disso, não existiria a sensação de que nos presenteiam com algo e sobretudo o sentimento de culpa que nos impede de protestar ou criticar quem garante essas pequenas porções. O mercado racionado deveria ser para esses que sofrem de uma deficência física, psíquica ou ficaram desempregados. Enfim, deve ser direcionado para os que necessitam da previdência social para sobreviver.
Ainda que a ideia pareça simples, o gargalo da garrafa da sua aplicação é o fato dos salários continuarem de acordo com os alimentos subvencionados da “caderneta” e carecerem de objetividade frente aos preços liberados. Dizer a uma familia cubana que a partir de amanhã não terá as quantidades limitadas e as qualidades duvidosas que recebe da mercearia, é tirar-lhe o chão dos pés. O alpiste, mesmo restrito, é dificil de eliminar, pois erradicá-lo só pode ser feito se forem abertas as portas da gaiola. Daí que a noticia que na realidade esperamos não é a do fim do racionamento, mas sim a do fim da menos-valia econômica a que ele nos obriga, e do fim de uma relação paternalista que nos mantêm como filhotes de passarinho dependentes e…famintos.
(Publicado em Geração Y)
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