É tão fácil ir parar numa prisão e tão curto o caminho que leva à cela, que todos somos – potencialmente – réus que rondam os centros penitenciários. Um pedaço de carne de vaca comprado no mercado negro, um par de sacos de cimento adquiridos de um vendedor informal, uma folha de papel impressa e distribuída entre um grupo de amigos ou uma reunião furtiva para falar do futuro poderiam conduzir-nos a esses cárceres de teto baixo, colunas de concreto e fotos de mártires no refeitório. A liberdade costuma ser considerada um conceito abstrato, de difícil representação ou definição, assunto de filósofos; a prisão, em troca, é coisa de pedreiros, fundidores e serralheiros. Redunda ser relativamente fácil construir um cárcere. O difícil é traçar o perfil dos contornos da liberdade.
P.S.: Aqui mostro algumas fotos dos muros que rodeiam a prisão de Canaleta, em Ciego de Ávila. Alí tenho vários amigos, em sua maioria jornalistas independentes encarcerados desde a Primavera Negra de 2003. Alguns deles ditam a vários blogueiros – como Claudia Cadelo, Iván García, Reinaldo Escobar e eu – notícias pelo telefone para que coloquemos na Internet. Isso me leva a pensar que não há grades que prendam a opinião e que o ciberespaço tem a capacidade – também – de infiltrar-se por entre os ladrilhos e a argamassa destes lugares lúgubres.
(Publicado em Geração Y)
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