Responda rápido: você acha um insulto aos seus anos de estudo na universidade quando descobre que o percentual do “confisco da poupança” no Plano Collor foi decidido através de sorteio? Então o que acha quando o presidente diz que passou a se preocupar com infra-estrutura rodoviária quando sua esposa lhe falou do problema? Se você acha que ambas as decisões têm algo em comum, então percebeu que há algo de muito errado no que você pensava sobre seu país. Aqui está a confissão, em palavras do próprio presidente. “Toda vez que eu chegava em casa, minha mulher falava: ‘Lula, você viu o que está acontecendo nas estradas?”. Aquilo foi me incomodando, e aí decidimos priorizar a recuperação das estradas e não permitir que os buracos continuassem atazanando a vida dos brasileiros”.[O Estado de São Paulo, 08.07.06, p.A-13] Alguns acham esta uma forma eficaz de satisfazer eleitores pobres e analfabetos: eles não entendem muito, são pobres, então invente uma versão da história e lhes venda a idéia de que você é o “tocador de obras”. Pode ser (ou não) o caso. Mas também pode ser que a política pública, no Brasil, seja tratada de forma totalmente amadora. Se isto é o que acontece, eu me pergunto sobre o porquê de se criar novas universidades federais ou mesmo financiar bolsa de estudos para uma pós-graduação no exterior. Não precisamos de nada disto. Basta que a esposa, filha ou filho do presidente ligue a televisão que o problema começará a ser resolvido. Fechemos o Congresso, pois já temos o jornal das oito. Fechar o Congresso, diga-se de passagem, é algo sempre bem visto entre os mesmos que não entendem aspectos técnicos que deveriam acompanhar qualquer decisão de política pública . Não apenas entre eles, claro, mas não são os analfabetos menos revoltados com os políticos do que os “Ph.D’s”. Sou injusto com os milhares de artigos científicos publicados anualmente em periódicos acadêmicos? De forma alguma. Acho que tem muita gente mostrando custos e benefícios de políticas públicas nestes periódicos. Basta ir à biblioteca de sua faculdade e passar os olhos pelos títulos dos artigos nas boas revistas de sua área (para os leitores estudantes de Economia, alguns exemplos: American Economic Review, Journal of Political Economy, etc). Qualquer um poderá constatar que temos muita pesquisa de boa qualidade (e outras nem tanto). Há muitos sociólogos – conheço uma dúzia deles – que dizem, com desdém: “este negócio de economia, custo-benefício e tudo o mais é simples pois tudo se resume ao ‘chavão’ oferta e demanda”. Dá a impressão de que isto tudo se ensina (e se aprende) em umas duas semanas de aulas. Uma coisa eu digo: se você é destes que pensa assim, então você também é um forte candidato a decidir o que fazer com o dinheiro alheio segundo o que assistiu no jornal das oito. Dá arrepios imaginar que você pode ter este poder ao ser aprovado em um concurso público destes…
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