A eleição presidencial este ano tem gerado mais ruídos na economia dos que as duas eleições passadas. O motivo é que muitos analistas e agentes econômicos veem cenários de política econômica bastante diferentes dependendo do vencedor.
O ideal seria que mudanças de governo não tivessem muitas implicações na condução da política macroeconômica, tal que disciplina monetária e, principalmente, disciplina fiscal fossem premissas e não promessas.
Mas, assim sendo, convém avaliar o quadro eleitoral. A ideia é analisar o comportamento do índice de aprovação do governo, que é importante condicionante da dinâmica eleitoral, com repercussões na gestão da política econômica ainda este ano.
Testando alguns modelos econométricos simples, a conclusão é que o mercado de trabalho é variável chave para a aprovação do governo, manifestado via taxa de desemprego, taxa de ocupação e comportamento da renda real. A inflação, segundo os modelos, teria importância indireta, via comportamento da renda real, ou seja, a renda descontada da inflação corrente.
Dos modelos testados, o mais robusto é aquele que utiliza a taxa de ocupação – pessoas ocupadas em relação à população em idade ativa – em vez da taxa de desemprego, e a renda real deflacionada pela inflação de alimentos, e não pelo índice cheio de inflação. As variáveis utilizadas são ainda filtradas para que seja eliminado o padrão sazonal. Ainda que modelos econométricos devam ser analisados com bastante cautela, vale citar duas conclusões principais dessa modelagem.
A primeira é que o índice de aprovação do governo Dilma em 2012 até o início de 2013 (acima de 60%) estava acima do indicado pelas condições objetivas do mercado de trabalho, ainda que estas fossem bastante benignas, com taxas de ocupação elevadas (54,6% no último trimestre de 2012) e ganhos salariais robustos (1,8% acima da inflação de alimentos na média de 2012). Na época, um dos assuntos mais citados pelos entrevistados foi o mensalão, que contribuía positivamente para melhorar a aprovação no governo, segundo muitos analistas políticos.
Por essa perspectiva, os protestos de junho de 2013 forçaram uma correção da “excessiva” aprovação do governo até então, ainda que o ajuste tenha sido exagerado, pois o índice despencou para 30% em julho, ficando muito aquém do indicado pelo modelo (algo entre 45%-50%).
A segunda conclusão é que os índices atingidos no último trimestre do ano passado (em torno de 40%) estavam mais compatíveis com as condições efetivas da economia. Apenas por esse raciocínio, sem considerar outros elementos não mensuráveis que podem influenciar os índices de aprovação, pode-se dizer que os atuais níveis de aprovação estão no seu teto e podem não melhorar ao longo de 2014.
Apesar do desempenho extremamente favorável da taxa de desemprego, que está próxima das mínimas históricas, a taxa de ocupação – variável aparentemente mais relevante para explicar o índice de aprovação do governo – recua lentamente. O que está por trás desse quadro é a saída de pessoas do mercado de trabalho, principalmente os jovens, tal que a baixa geração de vagas de trabalho não causa elevação da taxa de desemprego.
De qualquer forma, o ponto é que há uma deterioração em curso no mercado de trabalho, que também se manifesta nos ajustes salariais mais modestos em termos reais, apesar da queda da inflação cheia e de alimentos. Uma vez que se espera para este ano um menor crescimento do PIB e com mais setores apresentando moderação, a geração de empregos seguirá baixa, bem como os ajustes salariais.
Ironicamente, esse quadro tem seu lado positivo. Mudanças de rumo, com ou sem vitória da presidente Dilma, são esperadas, uma vez que manter as políticas do passado só agravaria o quadro. Alguns ajustes já foram iniciados, inclusive do lado fiscal.
Mesmo que muitas vezes os ajustes se mostrem lentos e aquém do desejado, sofrendo também com o déficit de credibilidade, não se pode desprezar que há mudanças em curso. As eleições competitivas estimulando ajustes. No final do dia, é isso que nos distingue da Argentina.
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