A posse de Chávez, com seus longos discursos sobre seus novos programas dominou e surpreendeu a imprensa mundial, inclusive a nossa. Mas de onde vem tanto espanto? Nada que ele propõe é novo para nós brasileiros. Aliás, Chaves se beneficiaria muito do nosso know-how. Ao invés de torcer o nariz para Chávez, deveríamos ajuda-lo, enviando mil brasileiros para Caracas. Vejam onde nossos especialistas poderiam ajudar muito:
1. Nacionalizações: Energia, gás natural e água. Aqui quase tudo é nacionalizado. Temos também muita experiência em re-nacionalizações, inclusive formas novas e sofisticadas de usar fundos de pensões de estatais e de estados. Com relação à telefonia, poderemos enviar alguns antigos corretores de telefones e especialistas em imposto de renda, para ensinar transacionar telefones e incluir seus valores na declaração de renda.
2. Poderes especiais: Para que este negócio de “Lei Habilitante”? Vai ter um custo político internacional enorme. Vão dizer que a Venezuela não é uma democracia. Medidas provisórias e mensalões são muito mais eficientes.
3. Reeleições infinitas: Outro custo político internacional absurdo. Vão chamar Chávez de ditador. É melhor mexer nesse negócio de re-eleição a cada doze anos. Mas melhor ainda é eleger mulher, filho, irmão e voltar depois. Barato e muito eficiente na América Latina. Eleitor por aqui é grato à família e para sempre.
4. Divisão Territorial: Aqui realmente, os assessores brasileiros poderão ajudar muito, criando novos estados. E irão mostrar para Chávez que o bom mesmo é criar novos municípios em massa. Milhares de vereadores e prefeitos sem grana são os melhores cabos eleitorais e ótimos aliados em mudanças das leis eleitorais. Também vão adorar jantar no Palácio de Miraflores.
5. Banco Central: Como pode, a Venezuela do socialismo do século XXI ainda tem Banco Central e por cima independente? Realmente, precisam de muita ajuda dos brasileiros. A primeira medida é fundar um Banco da Venezuela com uma superintendência que cuide de moeda e crédito. Um bom nome é SUMOC. Aliás, todas as siglas deste novo banco devem ter cinco letras. Ajuda muito na confecção dos formulários. Mas é preciso também que este banco seja a tesouraria do país e que o banco tenha uma conta-corrente única para a Venezuela, que poderá se chamar Conta Movimento, que misture moeda básica e meios de pagamentos. Uma vantagem extra é na contabilidade nacional. Ninguém consegue entender nada. Dá para mostrar o comportamento que se quiser do orçamento e dívida pública, M1, M2, essas coisas. A Venezuela assim atende ao FMI, Banco Mundial e outros chatos que ficam recolhendo dados, sem precisar se tornar um país renegado do sistema financeiro internacional. E já pensou como serão divertidos os “staff papers”? Como explicar chuchus’ inflation? Os brasileiros também poderão ensinar a criar dívida pública sem contabilizar, que por aqui chamamos de “esqueletos”. Será que esta palavra existe em espanhol? E chuchu? Mas luxo mesmo é criar bancos estaduais que sacam contra o Banco da Venezuela, emitindo moeda básica. Governadores amam.
6. Câmbio: Aqui, os brasileiros poderão dar uma excelente contribuição. Controlar câmbio faz parte do dna brasileiro, como futebol e samba. O Banco da Venezuela também precisará de uma superintendência que registre e aprove todas as transações cambiais de todos os venezuelanos com o resto do mundo. Ninguém sabe para que serve, mas dá muito poder. Câmbios múltiplos também oferecem enormes possibilidades de administração política. Pode acalmar inimigos ricos e premiar burocratas e amigos com dólar “turismo” barato para visitas à Disneyworld.
Mas existem ainda muitas outras possíveis contribuições dos brasileiros. Restaurantes de meio dólar. Vocês entenderam certo. Chávez não discrimina dólar. Aliás, nenhum socialista que se preze discrimina. Farmácias e supermercados populares, vales-gás, chequezitos de todos os tipos, créditos instantâneos. Brasileiros são bons nisso. Algumas destas coisas a Venezuela já está fazendo. Por exemplo, fui informado que os carros na Venezuela já tem ágio. Mas os brasileiros poderão ensinar a criminalizar o ágio e ensinar também ser impossível explicar o conceito para gringos amigos. Eles nunca vão entender esse conceito de o mesmo carro ter um valor de face e outro de mercado, sendo que a diferença equivale a um crime. Os gringos vão sempre perguntar: Tomate também tem ágio? É por essas coisas que achamos os americanos meio idiotas.
Os brasileiros poderão contribuir muito mais. Temos os ministros mágicos ainda por aqui. Eles ajudam muito na emoção e no entretenimento nacional, fazem uns truques incríveis. Já sumiram com todo o feijão preto do Brasil (será que tem feijão preto na Venezuela?) e também com toda a soja. E não precisam de rodeios, laçam boi no pasto mesmo – mas nisso nunca foram muito bons. Uma que Chávez vai gostar. Conseguiram fechar todos as lojas McDonald’s por alguns dias, por iniciativa dos donos do McDonald’s! Mágica pura. Existem também aposentadorias incríveis – além de serem100% do salário da ativa, as aposentadorias acompanham as promoções da carreira ativa. Muito criativo. Promovidos depois de aposentados. As vezes, depois de mortos. Também existem até hoje pensionistas de militares que lutaram na guerra do Paraguai.
Outra contribuição incrível pode ser na área cultural, com 50% de desconto nos cinemas e teatros. Mas os brasileiros não deverão sugerir o que foi feito no Brasil, de dar desconto de 50% também para pessoas com mais de 60 anos. Desestimulou muito os idosos continuarem a estudar na terceira idade. No passado era emocionante ver os idosos, nas entradas dos cinemas e teatros, todos com carteiras de estudante.
Uma contribuição útil poderia vir dos marqueteiros brasileiros. Mas não sei se Chávez entra nessa de alfaiate chique, botox, programas de governo com nomes de guloseimas e que tais. Esse negócio de fazer discurso de seis horas na frente da sua foto com 20 metros de altura e cercado de bandeiras, deve ser uma injeção de adrenalina que nenhum marqueteiro entende. Só aqueles antigos na Rússia e Alemanha. Mas para o médio prazo, algum plano de imagem Chávez terá que fazer. Será que lá na ONU ele sentirá de novo cheiro de enxofre quando a Hillary Clinton for presidente? Vai berrar que ela é o capeta ou imperadora? Realmente vai pegar muito mal para nossa reputação latina de galanteadores. Apesar de que na reunião do Mercosul no Rio, o cavalheirismo dos presidentes foi inexistente. Ignoraram a presidente Bachelet. Ela sempre ficou com os piores lugares às mesas e nas fotos e entrou por último nos elevadores. Com os presidentes sempre oferecendo-lhe as costas. Onde ficou a nossa tradição de rapapés e beija-mãos com as senhoras? Só porque o Chile assinou aquele acordo mixuruca com os EUA?
A idéia de oferecer mil brasileiros a Chávez foi inspirada nos 30 militares venezuelanos que foram ajudar a Bolívia. Pura solidariedade continental. Mas por que mil? Primeiro, o programa bolivariano é muito ambicioso, vai dar trabalho. Segundo, a escala ideal de trabalho para estes mil brasileiros é 24 por 72 horas, com descanso no fim de semana. Assim, não faltarão brasileiros ajudando a Venezuela não somente em Caracas mas também nas maravilhosas praias do Caribe, antecipando a próxima grande onda da Venezuela pós petróleo. Alem disso, dois países terão este original método de escala para trabalhar e a piada da jabuticaba não valerá mais.
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