Os preços dos ativos no mercado financeiro são voláteis, sujeitos a erros. Às vezes sobem como bolhas, por excesso de otimismo. Em outras ocasiões, caem movidos por puro pânico.
Nada que esta última crise não nos tenha (novamente) ensinado.
Mas a cada nova onda continuamos a nos questionar se há algo fundamental no último movimento de preços. É o caso deste início de ano, que começou em baixa nos mercados financeiros.
O que está ocorrendo? É apenas ruído vindo do mercado financeiro ou sinal de problemas à frente na economia (mundial e/ou brasileira)? Difícil saber. A piora nos preços dos ativos tem sido global e reflete risco em alta. No Brasil, por exemplo, em janeiro, a bolsa caiu quase 5%, o real perdeu 8,6% em relação ao dólar, e o risco Brasil subiu 20 pontos base.
Mas os últimos dados divulgados da economia (mundial e brasileira) continuam mostrando um ritmo saudável de crescimento. Nos EUA, o crescimento no último trimestre surpreendeu para cima, com uma taxa anualizada de 5,7%. No Brasil, o desemprego ficou em 7,8%, ajustado sazonalmente, com forte crescimento do emprego. Outros dados divulgados, como confiança do empresário e do consumidor e aumento da utilização da capacidade produtiva, corroboram a conclusão de que a economia vai… bem, obrigado.
Mas qual é o risco em alta, que derruba os mercados? O risco é que algumas das consequências econômicas da maior crise financeira das últimas décadas ainda estão por vir. Não terminaram no ano passado, nem vão desaparecer por mágica. A situação na Grécia (e na Europa, em geral) piora, a China aperta o cinto, Obama declara guerra aos bancos e Bernanke teve dificuldade para manter o emprego. Vivemos os tremores do pós-crise.
Nos EUA, o desejo de voltar à normalidade contrasta com os efeitos da crise. A crise levou o desemprego para níveis acima de 10%, e há pressão para reformar “tudo que está aí”, em especial o sistema financeiro, epicentro da crise. Parece provável que qualquer uma das reformas financeiras hoje propostas deverá, pelo menos no ínterim, reduzir o crescimento potencial, já que irá requerer mais capital, menos alavancagem e, portanto, menos disponibilidade de crédito enquanto os ajustes estão sendo efetuados.
Na Europa, após a crise, sobraram os déficits elevados e as altas dívidas públicas, principalmente em países como Grécia e Irlanda, mas também Espanha e Portugal. O caminho é difícil: cortar gastos e estímulos ao crescimento, reduzindo o padrão de vida. Se não conseguirem trilhar o caminho do ajuste, resta o calote ou o resgate pelos países centrais. Mas países como Alemanha preferem não arcar com essa conta, para não sobrecarregar seus contribuintes, já descontentes com as suas próprias finanças públicas após a crise.
Na China, o aperto monetário começou um pouco antes do esperado.
Houve aumento de compulsório, restrições quantitativas a emprestar e subida nas taxas de juros (no leilão dos títulos de curto prazo).
Provavelmente, esse é o começo de um processo de normalização da política monetária, ainda bastante estimulativa.
Em suma, os problemas nos EUA, Europa, dúvidas sobre a regulação financeira e aperto na China derrubaram os mercados no mundo e no Brasil.
Há dificuldades de saída da crise financeira internacional. As economias maduras ainda vão ter que lidar com as consequências da crise, o crescimento ao longo da próxima década será menor que no passado.
Apesar dos riscos e da volatilidade eventual, a trajetória mais provável é a de continuidade na retomada do crescimento mundial. Alemanha e França provavelmente irão resgatar os países periféricos da Europa (poucos arriscariam um final à la Lehman Brothers), a economia americana continuará usando toda a sua flexibilidade para se recuperar da crise, e a China e o Brasil já mostraram sinais de que vão evitar os excessos que vêm dos estímulos do ano passado.
A tendência é positiva, a recuperação é para valer, mas o Ano Novo vem com riscos elevados e maior volatilidade.
Apertem os cintos enquanto as luzes de alerta estiverem acesas.
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