A sequência de más notícias não dá trégua para a indústria brasileira. Após a crise internacional em 2008, os problemas se avolumaram: o setor perdeu competitividade, espaço na economia e agora até o que ia bem – ou menos ruim – piorou. De janeiro a julho, a fatia da indústria no volume de investimento estrangeiro recuou quase oito pontos porcentuais em relação a 2013, de 32,86% para 25,09%. Foi a pior participação desde 2000.
Em valores, a indústria brasileira recebeu US$ 8,013 bilhões neste ano, montante mais baixo desde 2008 (US$ 7,733 bilhões). A queda na entrada de recursos para o setor é reflexo da fraca atividade econômica do Brasil nos últimos meses e da falta de perspectiva em relação ao futuro do setor. Os dados divulgados na sexta-feira reforçam o pessimismo. O Produto Interno Bruto (PIB) nacional do segundo trimestre recuou 0,6% e o da indústria, 1,5% comparado aos primeiros três meses do ano.
“Desde a crise (de 2008), não tivemos um ano de sossego. A vida industrial tem sido um inferno”, afirma o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Julio Sergio Gomes de Almeida. O menor investimento, diz ele, é um processo natural com a indústria em recessão.
O economista pondera, entretanto, que nos últimos anos o setor recebeu um volume robusto de investimento externo – US$ 73 bilhões desde 2008. “O que podíamos tentar melhorar é o objetivo desse investimento para que, além do mercado interno, ele se volte também para fazer do Brasil uma economia industrial mais integrada nas cadeias globais.”
Entre as principais justificativas para a perda de competitividade da indústria nacional está a elevada carga tributária, infraestrutura deficiente, alto custo de capital e câmbio valorizado. Nesse ambiente, a indústria foi incapaz de voltar ao nível pré-crise. A produção industrial está 5% abaixo de setembro de 2008, quando a crise internacional eclodiu. “Houve perda de dinamismo generalizada em todos os setores”, diz Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Outra evidência da crise da indústria está na rápida queda de sua participação no PIB. No segundo trimestre deste ano, o peso da indústria de transformação foi de 10,7%. No mesmo período do ano passado, era 11,4%. Em 2010, respondia por 14% do PIB. Na década de 80, bateu os 27%. “O empresário não investe por instinto, muito menos por instinto animal (referência ao economista John Maynard Keynes). Ele investe baseado em retornos”, diz o diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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