“There is no means of avoiding the final collapse of a boom expansion brought about by credit expansion. The alternative is only whether the crisis should come sooner as the result of a voluntary abandonment of further credit expansion, or later as a final and total catastrophe of the currency system involved.” (Ludwig von Mises)
A turma de Wall Street está feliz novamente. Os investidores celebram a recuperação das bolsas, principalmente dos mercados emergentes. Os pagadores de impostos foram “convidados”, sob a mira de uma bazuca, a emprestar trilhões de dólares aos bancos insolventes, às seguradoras irresponsáveis, às financiadoras hipotecárias populistas e até para as montadoras ineficientes (GM deveria significar agora Government Motors). A impressionante injeção de liquidez nos mercados, aliada à taxa de juros colocada artificialmente em zero, tem acarretado no “reflation” dos principais ativos. Muitos já começam a falar no fim da crise. Aliás, que crise?
Se ao menos as coisas fossem tão simples assim… Aqueles que depositam fé inabalável na capacidade de o governo gastar o suficiente para sair da crise estão eufóricos. A reação dos mercados, segundo acreditam, corrobora com tal crença. O poder da alquimia finalmente foi descoberto! Basta o governo assumir empresas quebradas, aumentar seus gastos e financiar a festa toda com a impressão de papel que não precisamos mais encarar os incômodos efeitos da ressaca. O governo, com seu toque de Midas, liga as impressoras da Casa da Moeda e transforma papel em ouro, ou capital. Não é preciso reduzir o consumo excessivo, poupar mais e enfrentar os ajustes necessários após uma fase de bonança artificial através do crédito fácil. Basta espalhar os “brotos verdes” – na verdade notas de dólares feitas com papel, que logo o crescimento sustentável será colhido. A realidade não funciona bem assim.
Qualquer crescimento sustentável deve estar calcado em investimentos feitos pela iniciativa privada e lastreados por poupança real. Quando temos uma crescente estatização da economia, com decisões de alocação de capital feitas por burocratas e políticos, e financiadas através da emissão de moeda, a prosperidade será apenas ilusória. A recessão pode até ser postergada, mas também será ampliada. Novas distorções irão ocorrer, e no futuro a conta a ser paga será ainda maior. Os preços distorcidos pela injeção de liquidez do governo vão dar sinais falsos aos empresários, que irão retomar projetos ruins de investimento, que deveriam ser simplesmente abandonados.
O foco será nas fases iniciais de produção, ou seja, os setores mais intensivos em capital serão os líderes da “recuperação” artificial. Apenas com o tempo essas medidas chegarão aos setores mais próximos do varejo, impactando o índice geral de preços. Essa defasagem do impacto nos preços finais causa a impressão de que a inflação não é um risco iminente. Quando ficar claro que não existe poupança de capital real suficiente para financiar todos os projetos, uma nova crise será inevitável, e provavelmente mais grave também. Esse é o preço de se combater os efeitos, e não as causas verdadeiras da crise. Querem acabar com a febre do doente manipulando o termômetro. Acham que a cura para o veneno é mais veneno ainda. Se os problemas foram gerados por excesso de crédito sem lastro, vamos usar o governo para estimular mais crédito ainda!
Como afirma o economista austríaco Mises na epígrafe, isso não funciona. O mensageiro da notícia ruim é sempre um estraga-prazeres, um chato. Mas a boa teoria econômica não pode ser substituída por wishful thinking, pois a realidade não é alterada por simples desejos. No extremo, o resultado da estatização da economia e da emissão descontrolada de moeda pode ser observado no Zimbábue atualmente. Claro que a comparação ainda é absurda, e destaco o “ainda”. Mas ela serve para dar uma idéia das conseqüências nefastas que este rumo representa. Obama não é Mugabe, e os Estados Unidos estão muito longe de ser o Zimbábue. Mas a crescente intervenção estatal na economia e a expansão monetária são sinais perigosos. Alguns acreditam que são drásticas, porém necessárias medidas temporárias, e que logo serão desfeitas se a economia se estabilizar. Mas poucas coisas são tão permanentes como medidas temporárias de governo. O avanço assustador do governo na economia durante a gestão Roosevelt pode ser sentido ainda hoje.
Em resumo, muitos estão dançando sob a música do “reflation”, sem perceberem que estão próximos demais de um precipício. O futuro do dólar está em xeque. Se a moeda ainda apresenta razoável estabilidade, isso se deve ao fato de que suas concorrentes estão mal das pernas também. Trata-se de um concurso de feiúra, onde o menos horroroso vence. A Europa vive uma crise enorme, com a falência do modelo de welfare state. Os principais governos estão muito endividados, a carga tributária já é elevada demais e a dinâmica das contas públicas é preocupante. A Ásia vive uma situação relativamente melhor, mas quem vai confiar toda sua poupança a governos ditatoriais como o chinês? Em uma canetada, tudo pode ir pelos ares. Portanto, o governo americano surfa a onda de sua credibilidade conquistada ao longo dos anos, agora cada vez pior. O império da lei e a maior liquidez têm garantido sobrevida ao dólar. Os investidores estão dando um voto de confiança ao governo americano. Até quando isso vai durar, ninguém sabe.
Mas uma coisa é certa: os problemas estão longe do fim nos Estados Unidos. Os keynesianos podem discordar, mas o fato é que a arte da alquimia ainda não foi descoberta. Inflar os preços dos ativos inundando os mercados com moeda de papel nunca foi solução real para recessões. E não será dessa vez também.
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