Mais uma semana em que o foco das atenções esteve voltado para o comportamento da inflação, da atividade econômica e das possíveis ações do governo buscando compatibilizar ambas variáveis.
A divulgação do IPCA de março jogou mais lenha nesta fogueira, ao registrar 0,47% no mês, menos do que no mês anterior (0,6%), mas acumulando 6,59% em 12 meses, acima do teto do sistema de metas de inflação (6,5%). Olhando o desempenho mensal, porém, alguns fatos chamaram a atenção.
O índice de difusão do índice, ou seja, aquele que analisa a disseminação nos vários itens do índice, recuou, passando de 72% para 69%. Outro foi o índice da média dos núcleos se mantendo controlado, entre 5,8% e 6%, recuando de 4,66% para 4,51% se excluído o item de maior pressão recente, Alimentos e Bebidas. Este, em 12 meses, veio mais forte, registrando 13,48% em março, contra 12,22% no mês anterior, mas no mês, mais baixo, recuando de 1,45% para 1,14%, com o impacto decrescendo de 0,6 p.p. para 0,47 p.p.
Lembremos que este item vem sendo o grande vilão da inflação nos últimos meses, decorrente de fatores climáticos no ano passado, tanto aqui como no Hemisfério Norte. Isto, inclusive, acabou contribuindo para um movimento mais fraco nas vendas do varejo em fevereiro, recuando 0,4% contra janeiro, em muito decorrente da queda no segmento de Hiper, supermercados, alimentos, bebidas e outros (-1,0%).
Por outro lado, com a safra de grãos recorde prevista para este ano, já se observa, em alguns casos, uma melhoria no escoamento da produção agrícola, não gerando tantos choques na ponta do consumo. Uma boa notícia, por outro lado, veio da redução da alta dos Serviços, passando de 8,66% para 8,37%, talvez um indicativo de que a demanda neste segmento já começa a virar, diante do alto endividamento e a alta inflação, corroendo a renda das famílias.
Poderíamos também falar da inércia inflacionária, das expectativas dos agentes diante do futuro, do recuo dos preços monitorados, dentre outros.
Mas um fato merece uma análise mais acurada, o comportamento do mercado de trabalho, com a taxa de desemprego em patamar de “pleno emprego”, em torno de 5,5% da PEA, mesmo num ambiente de baixo crescimento e alta inflação. Isto pode ser positivo por um lado, mas pelo outro mostra uma oferta de mão de obra limitada, o que vem se refletindo em reajustes salariais altos, acima da inflação e do nível de produtividade da economia brasileira. Temos mais um fator forte de pressão inflacionária que ronda a economia neste ano.
Em 2012, o PIB cresceu apenas 0,9%, mas em 2013 deve crescer em torno de 3%, e a inflação no mesmo patamar, entre 5,5% e 6,5%, testando o teto do sistema de metas. Já o desemprego médio recuou a 5,5% da PEA no ano passado, menor patamar em anos, mesmo com a geração de empregos formais recuando a 1,3 milhão de postos de trabalho. Como explicar este fenômeno? Que fatores nos ajudam a explicar o mercado de trabalho atual? Tracemos, a seguir, um breve panorama sobre as mudanças que este mercado vem atravessando.
Maior participação dos serviços
Com a política de renda dos governos recentes este setor vem se mostrando aquecido. No ano passado, pelo CAGED, os empregos formais gerados chegaram a 1,3 milhão, com recuo de 34% contra o ano anterior e 80% contra 2010, num claro sintoma de acomodação do mercado – ver gráficos ao fim. Por outro lado, o setor de serviços gerou 666 mil vagas no ano passado, seguido pelo comércio, com 372 mil empregos formais, ambos respondendo por 80% dos empregos gerados no período. É importante ressaltar, no entanto, que estes setores são intensivos em mão de obra e geram, na sua maioria, empregos de baixa qualificação, mais voltados para camadas de baixa renda, ingressantes no mercado de consumo e de trabalho, em decorrência das políticas de transferência de renda dos governos Lula e Dilma.
Mudanças estruturais na sociedade brasileira
Outro fato vem das mudanças estruturais pelas quais o País vem passando. Estamos nos tornando uma sociedade de classe média, melhor distribuição de renda, crescimento vegetativo mais baixo e, por isto, população mais envelhecida, pelo menor nível de fecundidade e problemas localizados de apagão de mão de obra. Alguns indicadores do IBGE reforçam isto. Em 1990, o crescimento vegetativo anual da população brasileira era de 1,8%, no ano passado recuou a 0,8%; neste período, a taxa de fecundidade, de 2,8 filhos passou para 1,9; em 2003, o crescimento da população em idade para trabalhar era de 1,8%, em 2011/12 recuou a 1,0/1,2%; a proporção de trabalhadores entre 10 e 17 anos era de 18%, recuou a 12% no período em análise, e a proporção de trabalhadores idosos recuou de 30% para 27%. Somado a isto, estes estão parando de trabalhar mais cedo, dada a melhoria das aposentadorias e dos vários programas de transferência de renda.
Como resultado
As pressões por emprego no topo e na base da pirâmide vêm recuando, reduzindo então a taxa de desemprego, em 5,5% da PEA na média do ano passado, devendo repetir este patamar em 2013. Mesmo com a redução dos empregos formais gerados em 2012 contra 2011, estes acabaram suficientes para absorver a demanda por trabalho, que também encolheu. Em outras palavras, o crescimento do emprego, mesmo que cadente, é maior dos que procuram emprego. Neste contexto, de falta de pretendentes, além da falta de qualificação a ser analisada a seguir, vem ocorrendo um aumento dos salários e dos benefícios acima da inflação e da produtividade.
Apagão de mão de obra
Ou seja, devemos considerar, portanto, que houve uma maior demanda por mão de obra em alguns setores, como nos aquecidos serviços, infraestrutura e construção civil. Isto acabou corroborando para o apagão de mão de obra e baixos indicadores de produtividade, gerando reajustes salariais acima deste último e contribuindo para o início de uma espiral “preços-salários” como mais um fator de pressão inflacionária.
Empresas esperando para ver
Importante ressaltar também que boa parte das empresas, na expectativa de uma retomada mais consistente neste ano de 2013, resolveu dar um tempo nas demissões no ano passado, pelo alto custo que estas acarretavam, fruto de uma legislação trabalhista arcaica. Com isto, as demissões da Indústria no ano passado, por exemplo, embora fortes, acabaram aquém da redução da produção. Os postos de trabalho recuaram 1,4%, contra 2,7% na retração da produção e 1,9% nas horas trabalhadas. Por outro lado, a folha de pagamento avançou 4,3%, decorrente dos reajustes salariais acima da inflação e da produtividade, com o apagão de mão de obra mais qualificada em alguns setores e as deficiências de infraestutura. Em função disto, a produtividade do trabalho em 2012 recuou 0,8%. Já neste ano de 2013, observa-se uma redução das pressões salariais e uma tímida retomada da produtividade na indústria. No primeiro bimestre deste ano, pelo IBGE, o nível de emprego da indústria recuou 1,2% contra mesmo período de 2012, com as pressões de folha de pagamento crescendo menos (2,8%) do que a produtividade (3,0%), reduzindo o custo de produção. Se a indústria crescer, a tendência é de que isto se inverta, com as contratações sendo retomadas e a produtividade recuando.
Apenas para registro
Em fevereiro, pelo CAGED, houve crescimento no emprego formal de 123,4 mil empregos, quatro vezes maior do que o saldo do mês anterior (28,9 mil postos). No ano, a expansão chegou a 170,6 mil empregos e em 12 meses, a 1,1 milhão, menor do que em 2012 (1,3 milhão). Esse desempenho mensal decorreu da expansão em cinco dos oito setores acompanhados, com destaque para Serviços (82,1 mil postos) e Indústria de transformação (33,5 mil empregos). Isto não deixa de ser auspicioso, por mostrar uma reação do setor industrial, muito impactado pela crise de confiança e pelas perdas para as importações chinesas recentemente. Além disto, o desemprego, pelo IBGE, registrou 5,6% da PEA, maior do que em janeiro (5,4%), mas menor do que no mesmo mês do ano passado (5,7%).
Estimados amigos, bom dia!
Excelente matéria.
Parabéns ao editor.
Alguém pode me explicar porque com tanto “pleno emprego” a camelotagem não para de aumentar? A cada dia um novo local de nossas cidades é tomado/ocupado/usado por algum pobre coitado que não leu o jornal certo e portanto não foi inserido no “pleno emprego”. Quando é que esta mistificação vai acabar? Ora, eu tenho 60 anos e portanto sou testemunha do tempo em que o Rio de Janeiro não tinha NEM uma banca de camelô. O primeiro desempregado que eu conheci foi colega de trabalho no final da década de oitenta. Daí em diante, hell broke loose.
Puts Grila; todos trabalhando é ruim,renda alta é ruim, manter os empregos é ruim,juros baixos é ruim, otimismo do empresário que espera uma retomada…é ruim. É pra fazer esse tipo de análise que se formam economistas?
Se as contratações acontecem e não temos ganhos de produtividade, o resultado acaba sendo aumento das pressões inflacionárias…não tem jeito…o problema é q boa parte destas contratações ocorreram sem aumento de investimentos e ganhos de produtividade…sem estas, o q temos é mais inflação pela espiral preços-salários..apenas isto.