Duzentos e cinquenta professores e pesquisadores do País subscreveram uma “nota de repúdio” do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) contra ato de estudantes da Faculdade de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Um grupo impediu o lançamento do livro “Os Donos do Morro” e um debate sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), na noite de terça-feira (14). Com apitos e gritando palavras de ordem, os alunos ocuparam o auditório, onde estavam o sociólogo Ignacio Cano, um dos autores do livro, o comandante das UPPs, coronel Frederico Caldas, além de representantes da ONG Justiça Global e lideranças comunitárias.
“É inadmissível, moral e eticamente, que grupos autoritários decidam o que pode ou não pode ser debatido na universidade e/ou quem pode ou não participar dos debates. Esse não é um caso isolado e é preciso denunciar essa postura, que tem ganhado corpo nas Universidades”, diz o texto, assinado pelo sociólogo Sérgio Adorno, da Universidade de São Paulo, a socióloga Julita Lemgruber e a cientista política Sílvia Ramos, ambas do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, integrante da Comissão Nacional da Verdade, o economista Daniel Cerqueira, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), entre outros.
Os estudantes gritavam palavras de ordem lembrando a morte do pedreiro Amarildo Souza, morto na UPP da Rocinha, e cobravam a desmilitarização da PM. Convidados a integrar a mesa do debate, recusaram-se. “Disseram que impediriam o evento e que polícia só tinha que entrar na universidade depois de passar no vestibular”, contou Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência.
Cano disse ainda que os jovens ficaram agressivos e chegaram a jogar água em Dawid Bartelt, representante no Brasil da Fundação Heinrich Böll, organização alemã que financiou a pesquisa. Bartelt teve de sair sob escolta. “Foi uma vergonha. Se formos trocar o argumento pelo grito, a experiência empírica pela palavra de ordem, então seria melhor fechar a universidade”, afirmou o sociólogo.
Na página do Centro Acadêmico de História da Uerj (Cahis), os estudantes justificaram o ato “contra o comandante das UPPs”, lembrando que a Uerj foi pioneira ao admitir estudantes pelo sistema de cotas raciais. “(A Uerj) foi a primeira a ter em suas salas estudantes negros, pobres e favelados. Sendo assim, não poderíamos permitir a realização de um evento sobre as Unidades de Polícia ”Pacificadoras” que assassinam diariamente esses mesmos jovens negros e favelados”, escreveram. Eles não deram entrevista.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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