Henrique Capriles Radonski foi reeleito governador em Miranda, segundo estado mais populoso da Venezuela. Depois de ameaçar o poder de Hugo Chávez, que está exercendo seu quarto mandato como presidente da Venezuela, Capriles se firma definitivamente como principal nome da oposição.
Chávez não se esqueceu da ameaça ao seu poder e destacou o ex-vice-presidente Elías Jaua para concorrer com Capriles em Miranda. O resultado foi conhecido neste domingo, 16 de dezembro. As pesquisas apontaram e se confirmaram, no entanto, para a vitória de Capriles.
Capriles, do partido Primero Justicia, obteve 44,13% dos votos nas eleições presidenciais de outubro com o apoio de 20 partidos de oposição. “O importante é garantir a unidade e seguir trabalhando por esses mais de seis milhões e meio de venezuelanos que nos deram seu voto. Nossa luta é democrática, nosso objetivo é trabalhar com todos e nossa gestão em Miranda foi e seguirá sendo exemplo disso”, afirmou.
Imil: O senhor teve 44,13% dos votos na eleição presidencial. A melhor votação para um candidato da oposição desde que Hugo Chávez chegou ao poder, há 14 anos. Foi a primeira vez que ele se viu ameaçado. O senhor acredita que as eleições ocorreram dentro da lei?
Henrique Capriles: Certamente avançamos como alternativa em nosso país e estivemos muito perto de chegar à presidência. Isso mostra que devemos seguir trabalhando e construindo um caminho para um futuro melhor para nossa Venezuela. Mas muitas coisas devem ser avaliadas. Essa não foi uma luta contra outro candidato, foi uma luta contra todo o poder do Estado, toda a sua estrutura… Contra o abuso do poder, o uso dos recursos públicos, a mídia do Estado e as instituições tendenciosas. Muito do que ocorreu no dia da eleição foi produto da falta de equilíbrio nas instituições. E é essa a luta que estamos abraçando, porque nosso fim não deve ser unicamente ganhar uma eleição. Percorremos a Venezuela como nunca ninguém havia feito e vamos seguir trabalhando pelo progresso que todos merecemos.
Imil: Qual é o seu balanço das eleições presidenciais?
Henrique Capriles: Há seis anos iniciamos a construção de uma unidade sólida para dar uma alternativa democrática ao país. Desde então estamos crescendo passo a passo e a eleição demonstrou que avançamos, que ganhamos a confiança de milhões de venezuelanos. Temos que seguir trabalhando para construir um grande movimento que escute o nosso povo, conheça seus problemas e se comprometa a oferecer as melhores soluções.
Imil: Chávez foi reeleito com 55,25% dos votos, o que demonstra que o país está dividido. Como será esse novo governo, considerando o novo entorno político do país?
Henrique Capriles: Esperamos que o presidente Chávez tenha claro que existem 6,6 milhões de venezuelanos que querem um projeto distinto, melhor que o atual. Temos que nos respeitar e nos escutar se queremos construir uma Venezuela melhor. Quando há diálogo e acordo os avanços são mais rápidos.
Imil: Durante a campanha presidencial, o senhor disse que vê o Brasil como “um país que entende as relações internacionais como relações entre estados, não entre governos”. Qual é a sua opinião sobre as relações políticas e econômicas entre Brasil e Venezuela?
Henrique Capriles: Disse e reafirmo: a condução das relações internacionais deve responder a políticas de Estado que devem se traduzir em benefícios para ambos os povos. Isso se aplica particularmente ao Brasil, um país vizinho com quem temos uma visão comum em torno aos temas centrais da agenda. Agora, sempre se deve ter equidade nas relações comerciais.
Imil: O vice-presidente da Venezuela, Elías Jaua, um dos nomes mais fortes do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), competirá nas eleições regionais em Miranda. O senhor teme que o uso da máquina estatal possa prejudicar a oposição?
Henrique Capriles: O candidato do partido do governo está prometendo o que não fez como vice-presidente, tendo todo o poder nas mãos. É a mesma pessoa que negou recursos aos mirandinos. Sabemos que andam montando pequenas campanhas para prejudicar a imagem de nossa gestão. E sabemos também que o interesse do governo não é estender a mão ao povo mirandino, e sim impedir o governo de Henrique Capriles. Mas os mirandinos sabem que têm um governador que sempre esteve ao seu lado, porque desde nosso primeiro dia de gestão fomos de casa em casa, escutando o povo e resolvendo os problemas de cada comunidade. Confiamos na decisão que o povo tomará no dia 16 de dezembro, pois demonstramos que é possível fazer as coisas bem.
Imil: Caso reeleito, o senhor reafirmará sua posição no panorama político de Venezuela. Qual é a importância de Miranda para sua carreira política?
Henrique Capriles: Chegamos à disputa presidencial graças a nossa gestão em Miranda. Tivemos a oportunidade de mostrar aos venezuelanos que as coisas podem ser feitas de forma distinta. Em quatro anos conseguimos que Miranda avançasse em educação e saúde, apoiamos a produtividade de nossos empreendedores e desenvolvemos importantes planos sociais para os mais necessitados. Miranda encontrou seu caminho e a Venezuela também encontrará o seu.
Imil: Miranda, o segundo estado mais povoado do país, ainda tem altos índices de violência e insegurança. Caso reeleito, como será resolvido esse problema? Quais são suas prioridades para o novo governo?
Henrique Capriles: Em Miranda entendemos a segurança como um tema integral. Fortalecemos a polícia e devolvemos sua institucionalidade. Mas também focamos no fortalecimento da educação, na criação de mais espaços esportivos e de recreação, além de incentivar o empreendedorismo. A educação é um escudo contra a pobreza. Quando garantimos um emprego com qualidade, jamais a fome toca a porta. Segurança é um tema amplo, em nosso país há altos índices de impunidade e o sistema carcerário não funciona. Nada adianta prender um delinquente se em pouco tempo ele estará nas ruas novamente. Devemos ter um sistema de justiça que funcione para todos igualmente, que todos sejamos iguais perante a lei e que nossas cadeias sirvam realmente para regenerar quem comete um delito. Devolver a segurança ao nosso povo exige o trabalho de todos os níveis de governo.
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