No início dos anos 1930, como também ocorre na atual crise financeira, a confiança dos investidores estava abalada pelo colapso dos mercados de ações. Charles Chaplin, retornando à América após um período de exibições pela Europa, reuniu a imprensa para declarar: “Sou reconhecidamente um comediante. Mas, observando a situação da economia mundial, eu me convenci de que sou um financista, já que os financistas são decididamente uns comediantes”.
No crash de 1929, como agora, excessos dos financistas e erros do banco central resultaram catastróficos.
As frustrações decorrentes foram registradas pelo vertiginoso colapso dos mercados acionários.
Os erros de julgamento, as avaliações equivocadas sempre estiveram presentes nesses turbulentos episódios históricos. A incessante busca por eficiência, indissociável das economias de mercado, será sempre tão imperfeita quanto qualquer outro empreendimento ou dimensão humana.
Em meados de 2009, após extraordinária recuperação dos preços das ações, a pergunta inevitável se coloca. Essa alta sincronizada dos mercados acionários nos diversos países é uma indicação segura de que a recuperação da produção e do emprego está logo à frente? A alta das bolsas é um sinal da reativação sustentável das economias? Ou, ao contrário, os fundamentos econômicos foram atingidos mais profundamente, de modo a provocar uma iminente interrupção da alta das bolsas e novo desfalecimento dos preços das ações mais adiante? A resposta não é igual para todos os países.
A questão é examinada por Russell Napier, em “Anatomia das bolsas em queda: as lições das quatro maiores baixas em Wall Street” (2007). A má notícia é que uma viagem do pico da bolsa ao fundo do poço é bastante longa: em média pouco mais de dez anos. Mas a boa notícia é que, para Russell — e eu concordo, pois estamos falando de preços em relação aos lucros das empresas — o pico ocorreu em março de 2000, ou seja, há quase dez anos.
“Os indicadores que permitiram identificar os fundos do poço nas bolsas em 1921, em 1932, em 1949 e em 1982 foram os mesmos. Portanto, os investidores deveriam manter o foco nesses indicadores.
Os quatro pisos de mercado ocorreram ainda durante a recessão econômica. A estabilidade e a eventual recuperação dos preços de commodities — particularmente o cobre, por seu uso industrial — deram o sinal de que a ameaça de deflação se dissipara. Essa era a senha para a recuperação dos preços das ações”, registra Russell.
As extraordinárias bolhas de preço das ações resultaram de extrapolações impróprias de um excepcional ambiente econômico: baixa inflação, alto crescimento e ritmo acelerado de inovações tecnológicas.
Já os fundos de poço resultaram de frustrações dessas expectativas, em meio a grandes turbulências nos mercados de crédito e sob ameaças extremas como a deflação ou o descontrole inflacionário.
(O Globo – 15/06/2009)
Parabéns pelo excelente artigo. Fiquei interessada no livro mencionado:
“Anatomia das bolsas em queda: as lições das quatro maiores baixas em Wall Street”
Porém procurei em diversas livrarias virtuais e nâo o encontrei. Saberia me informar a editora ou onde posso encontrá-lo a venda.
Grata