Mesmo após 37 anos da morte de Ayn Rand, sua filosofia, o objetivismo, e a obra “A revolta de Atlas” continuam a influenciar pensadores liberais de todo o mundo. Depois de testemunhar a Revolução Bolchevique de 1917, a escritora partiu para um país que considerava modelo ideal de liberdade, os Estados Unidos. A partir de então, consagrou-se como romancista, dramaturga, roteirista e filósofa americana.
A convite do Instituto Millenium, o fundador do Instituto Estudos Empresariais (IEE), Roberto Rachewsky, fala sobre a vida e o legado de Rand. Para ele, a obra mais conhecida da autora, “A revolta de Atlas”, tem forte relação com o atual quadro político do Brasil, e considera o objetivismo uma filosofia completa que intercede pela razão, o individualismo e a felicidade pessoal. Ouça a entrevista completa no player abaixo!
Filha de judeus de classe média alta, Rand nasceu em 1905 na cidade de São Petersburgo, na Rússia. Desde pequena, mostrava-se diferente: com apenas 9 anos já sabia que seria escritora. Três anos mais tarde, assistiu a ascensão de Vladimir Lenin ao poder, e desde essa época, Rand e sua família passaram por uma série de dificuldades. Em busca de exílio, mudaram-se para a Ucrânia e mais tarde para Crimeia. Já com 16 anos, em 1921, Rand retorna para sua cidade natal, onde ingressa em um curso universitário de História e Filosofia, e posteriormente Cinema. Em 1926, diante da pressão do regime comunista, decide emigrar para os Estados Unidos: “Ela sente a pressão política e a perseguição que existe por parte dos comunistas e teme pela sua própria vida. Percebendo que ali não teria futuro, aos 21 anos Rand decide ir para os EUA por considerar um país ideal pela liberdade que ofereciam ao cidadão. Chegando lá, morou alguns meses com parentes em Chicago e logo em seguida se mudou para Los Angeles, que é o ponto de início de sua carreira”, relata Rachewsky.
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Naquele período, Rand escreveu diversos roteiros para cinema, peças teatrais e livros de ficção e não-ficção, entre eles, suas obras mais famosas: “A nascente”, publicada em 1943, e “A revolta de Atlas”, de 1957. Rachewsky conta que em seu primeiro best-seller, Rand já aborda a vida nos EUA e outros assuntos, como o idealismo, comentados de maneira mais acentuada em sua obra-prima seguinte:
“Em “A revolta de Atlas”, Rand apresenta de forma romanceada o objetivismo. Essa filosofia trata a razão como o único absoluto do homem. É a forma que o ser humano tem para conhecer a realidade e lidar com as coisas do universo que o cerca. Rand gostava de usar uma frase de Francis Bacon que diz ‘para comandar a natureza é preciso obedecê-la’, e é exatamente isso que o homem precisa fazer para que a sua vida seja melhor e mais longeva. Buscar a felicidade pelo maior tempo possível é o nosso principal propósito moral, somos um fim em si mesmo. O ser heroico e a realização produtiva têm a ver com isso, quer dizer, precisamos vencer as batalhas durante nossa existência, produzindo os valores que possibilitarão que superemos esses desafios. A partir dessa superação, com o preenchimento dos propósitos que cada um vai estabelecer em sua vida, encontraremos a felicidade desejada”.
A filosofia de Rand também tomou formas na política, baseando-se na defesa do capitalismo laissez-faire, ou seja, o capitalismo com ampla liberdade econômica apoiado por um Estado mínimo, explica Rachewsky: “A política que o objetivismo defende é o capitalismo laissez-faire, que seria o único sistema viável para a ética do individualismo, que defende o ser humano como um fim em si mesmo, e defende também a moralidade do auto-interesse, onde temos o direito individual inalienável de buscar nossa felicidade através do exercício da liberdade, criação, manutenção e consumo das propriedades que criamos. Então, o capitalismo é o sistema onde esses direitos que servem de ponte entre a ética individualista e a política, sejam defendidos por uma instituição que chamamos de governo. Ao governo seria atribuído exclusivamente a finalidade de defender os nossos direitos individuais para extirpar do contexto social a iniciação da violência por alguém”.
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O estatismo, termo cunhado por Ayn Rand em 1962 para designar a intervenção do Estado em atividades econômicas e individuais, caracteriza corretamente o cenário político do Brasil atualmente, segundo Rachewsky. Portanto, adaptar o capitalismo laissez-faire em nosso país, apesar de oferecer maior independência e autonomia ao cidadão, é uma realidade ainda distante: “Temos uma sociedade cuja ética é fundada sob o coletivismo estatista, é pouco provável que consigamos, através de um sistema democrático, estabelecer um sistema político que se baseia no exato oposto, na ética individualista, onde o homem é um fim em si mesmo e não uma peça de uma máquina maior a qual está a serviço seja do governo, sociedade, tribo etc. Para isso, o governo precisa ser extremamente limitado pelos direitos individuais que todos nós possuímos. O direito da vida, da liberdade em agirmos baseados em nosso próprio julgamento e o direito a nossa propriedade. O que temos no Brasil hoje e o que vemos como a descrição do capitalismo laissez-faire a partir da obra de Ayn Rand, é uma gigantesca distância e um enorme trabalho de conscientização da sociedade e da profusão de instituições para que isso se torne possível no futuro”.