Uma nova teoria da conspiração acaba de surgir. O grande paradoxo das teorias conspiratórias é que elas costumam começar com conspirações reais. Por exemplo, em 1903 surgiu na Rússia um livro virulentamente anti-semita descrevendo um suposto plano de rabinos e judeus influentes para destruir as bases da sociedade e conquistar o planeta. “Os Protocolos dos Sábios do Sião”, na verdade, era uma criação da polícia política russa para dar apoio aos pogroms (1) e os ataques à esquerda anti-czarista, que incluía alguns judeus russos.
Tudo bem, havia uma conspiração, só que elaborada não pelos Sábios do Sião e sim pela polícia política russa. A obra era um plágio dum panfleto escrito várias décadas antes pelo jornalista Maurice Joly contra Napoleão III, chamado “Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu”. A polícia política pegou o texto, adaptou-o a propósitos anti-semitas e o pôs em circulação, em que permanece até hoje, aceito por uma boa quantidade de pessoas que acreditam que, por trás de qualquer evento (a criação de Israel ou o sucesso notável dos judeus, por exemplo), esconde-se uma conspiração sombria.
Pois bem. Numa escala diferente o mesmo ocorreu com a prisão de Julian Assange em Londres. De uma hora para outra, a prisão de Assange (como sua subsequente liberação sob fiança) deixou de ser um processo esquisito sobre o uso de camisinhas e tornou-se uma operação diabólica da CIA.
Segundo quem? Israel Shamir, um judeu russo convertido ao Cristianismo, que concorda com Mahmoud Ahmadinejad do Irã ao querer o desaparecimento de Israel; Alexander Cockburn, editor do “Counterpunch” (2); Keith Olberman (3); um professor de Oslo chamado Michael Seltzer e um fantoche semelhante na New York University chamado Mark Crispin Miller. Mas essas são apenas algumas das centenas de pessoas que repetem essa teoria no mundo incompreensível da Internet e dos jornais impressos.
Como surgiu essa nova conspiração? Tudo começou com o Granma, o diário do Partido Comunista de Cuba. Naquele jornal, que é o grande órgão da tirania, um de seus funcionários, o franco-canadense Jean-Guy Allard, refugiado em Cuba há muitos anos, publicou a mentira inicial: Anna Ardin era uma “cubana anti-Castro” residente na Suécia e escrevia contra a revolução no website de outro cubano, Alexis Gaínza.
Todos eles estariam a soldo da CIA porque haviam tido relações com um agente bem conhecido da agência – eu. Essa era a prova de que Assange era vítima de uma plano sombrio de espiões americanos e seus aliados, os exilados cubanos. Anna Ardin acusara Assange de um crime sexual como parte de suas atribuições como espiã cubana para a CIA.
Tudo aquilo era falso e delirante. Foi o uso estratégico de um evento notório (Assange e o WikiLeaks) para atacar democratas que se opõem à ditadura cubana. E foi o trigésimo segundo artigo publicado por Allard como parte de uma campanha sistemática para me desacreditar, organizada pela polícia política da ilha. Ele foi o executor, o capanga incumbido do trabalho sujo.
Na realidade, nem Anna Ardin era cubana, nem Alexis Gaínza recebe apoio de Washington para manter seu website (ele é apoiado por esquerdistas suecos), nem eu conheço Ardin, nem eu troquei palavras com Assange, nem eu jamais fui agente da CIA ou de qualquer outra entidade de inteligência. Primeiro, porque minha vocação não é operações secretas; segundo, porque eu não poderia fazê-lo nem se quisesse. Já há muitas décadas a lei americana proíbe a CIA de recrutar jornalistas que trabalhem na mídia americana e possam influenciar americanos, como é meu caso.
Várias lições podem ser tiradas. A mais importante é que não se pode em hipótese alguma levar a sério qualquer informação oficial dada por uma ditadura, como o Granma. Segundo, antes de aderir a teorias conspiratórias, deve-se analisar com cuidado a origem das elaborações, motivadas por ódios políticos ou posturas ideológicas. Quando os jornalistas se esquecem de fazer essa análise, acabam por trair seu público e fazer papel de tolos. Foi exatamente isso que aconteceu.
Notas do tradutor:
(1) Ondas de violência em massa contra minorias, incitadas ou aceitas pelos governos . O uso do termo russo disseminou-se quando das violências contra judeus na Rússia do século XIX.
(2) Site e “newsletter” de extrema esquerda, anti-Israel, pró-Cuba etc. Numa “tradução cultural” seria uma espécie de Caros Amigos.
(3) Âncora e comentarista político americano de esquerda. Projetou-se na carreira jornalística como comentarista esportivo. Algo como um Juca Kfouri que tivesse abraçado profissionalmente suas opiniões político-ideológicas. [/itálico]
Publicado no “Miami Herald”
Tradução: João Acciolly
IMPORTANTE
Denúncia NOVA Prevaricação do STF.
http://www.scribd.com/doc/46317181/Denuncia-NOVA-Prevaricacao-do-STF
IMPORTANTE
DEMOCRACIA HACKEADA – PT E A FRAUDE DAS ELEIÇÕES DE 2010.
http://propostaserra.ning.com/profiles/blogs/por-favor-leiam-tomem