A necessidade de ancorar a economia e os mercados em virtudes sólidas é o tema de “Spiritual Enterprise: Doing Virtuous Business” (Encounter Books, 2008), de Theodore Roosevelt Malloch. O livro defende o capitalismo, mas também insiste em que se requeira um “capital espiritual” como fundamento.
O autor começa observando que, no rastro de algumas das recentes quebras de empresas, fica claro que, no mundo dos negócios, é preciso uma maior responsabilidade e uma melhor gestão.
“O ultraje moral que as pessoas sentem como resposta à última década de escândalos e enganos é inteiramente legítimo e conduz a perguntas inevitáveis sobre o verdadeiro propósito dos negócios e as virtudes que são necessárias para sustentá-los e sustentar uma economia livre”, comenta Malloch.
Os defensores do capitalismo e do livre mercado destacam sua capacidade para produzir riqueza. No entanto, observa Malloch, os críticos defendem que pôr o motivo dos lucros no centro da vida é um erro, já que, falsamente, ele ocupa o lugar dos valores éticos e espirituais.
A tese de Malloch é que precisamos, certamente, criar riqueza, e é uma atividade legítima, mas devemos fazer isso de forma que os dons de Deus sejam usados de modo responsável. Pela mesma razão, a criação de riqueza não deveria ter como propósito a dominação dos demais ou a acumulação de poder pessoal.
Capital espiritual
Malloch declara ser um “cristão comprometido”, e as pessoas de fé, indica, vêem a liberdade não apenas como um arsenal de possibilidades, mas também como a capacidade de escolher entre o bem e o mal e de desenvolver nossas faculdades guiadas pela virtude.
O conceito de capital social, explica, é bem conhecido e faz referência aos recursos sociais acumulados que passam de uma geração à outra. Esse corpo de costumes, cultura, modos e moral foi um fator chave no desenvolvimento econômico dos países ocidentais.
Recentemente, algumas pessoas começaram a falar de capital espiritual, incluindo, observa Malloch, dois economistas premiados com o Nobel. Esse é um contrapeso necessário ao modelo redutivo do ser humano utilizado por muitos economistas, que reduzem a atividade a um equilíbrio de custos e benefícios. “Os seres humanos não são só maximizadores de lucros”, afirma.
Nossa época, continua o autor em um capítulo do livro dedicado ao conceito de virtude, tende a considerar a vida moral como uma questão de seguir normas. No entanto, isso tem sua origem em épocas anteriores, em que a vida moral era concebida não em termos de dever, mas sim de virtude.
O capital espiritual, que cresce por meio do cultivo e da prática das virtudes, acrescenta algo que o capital social não tem, explica Malloch. O capital espiritual vem de uma relação com Deus por meio do culto, da oração e da devoção, e também por meio da disciplina, que não é só da sociedade humana.
Esse capital espiritual, adverte, deve ser algo mais do que só um exercício de relações públicas, que nos nossos dias costuma ser chamado de responsabilidade social corporativa, mas que, com freqüência, não é mais do que um dispositivo para repelir as críticas das organizações não-governamentais. Também temos que evitar uma espécie de ética dos negócios superficial, que costuma ser guiada por uma agenda política.
Pelo contrário, uma empresa precisa ser guiada pela virtude, conclui Malloch. Esse comportamento virtuoso não é nada fácil em um mundo que costuma estar marcado pela corrupção e pela desonestidade. Além disso, em uma economia global marcada pelas rápidas mudanças tecnológicas, é mais necessário do que nunca que os valores espirituais guiem as empresas.
Pode inclusive haver custos, a curto prazo, ao se fazer negócios de modo virtuoso, reconhece Malloch. No final, no entanto, ele defende que a virtude levará a benefícios a longo prazo, tanto pessoais como comerciais.
Fonte: Insituto Humanitas Unisinos
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