Para ex-presidente do BC, país precisa de novas lideranças políticas
O ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, vê a crise política como mais preocupante e séria do que a situação econômica e afirma que, em um cenário de baixa previsibilidade, a saída é torcer para “alguma coisa dar certo”. Em sua visão, o ideal é que a o governo dê espaço para o surgimento de lideranças políticas que tivessem uma visão de maior eficiência para o Brasil.
— O governo está em uma trajetória insustentável. O problema político no Brasil é muito maior que o econômico, que não é pequeno. Não existia respeito nos políticos, mas ao menos as instituições vinham funcionando. De repente, além de um zigue-zague na economia, vimos um zigue-zague na estabilidade das instituições. Resolver esse problema deveria sair na frente para, aí sim, destravar a economia — afirmou, acrescentando que as decisões do Judiciário não podem ser pautadas por visões políticas ou econômicas.
Durante palestra promovida pela XP Investimentos, realizada em São Paulo, Fraga afirmou que no cenário atual o que se vê são políticos do “Brasil Velho” tentando se salvar e que, embora algumas medidas positivas tenham sido aprovadas no âmbito econômico, como o teto dos gastos, que farão efeito em cerca de cinco anos, não há uma previsibilidade para o curto prazo, incluindo aí o período eleitoral.
— Não conseguimos enxergar os próximos 18 meses. Os partidos estão todos enrolados e é preciso torcer para alguma coisa dar certo. O melhor cenário seria dar espaço para lideranças que tenham uma visão de maior eficiência para o Brasil — disse, sem citar nomes e lembrando que mesmo que surjam essas lideranças, os políticos do “Brasil Velho” ainda estarão presentes.
Marcos Lisboa, presidente do Insper, afirmou que o Brasil estava em uma trajetória de recuperação econômica com ajuste fiscal mais consistente até a divulgação da delação premiada dos executivos da JBS, em 17 de maio. No entanto, após essa data, a agenda de reformas deixou de avançar.
— As políticas fiscal e monetária estavam funcionando e a agenda de reformas avançava. Agora, temos o risco de chegar em 2018 com a casa mais desarrumada, e a política ficará ainda mais imprevisível — avaliou.
Ele ainda fez uma crítica à sociedade civil, que deveria cobrar as reformas e não se calar quando grupos organizados tentam manter seus benefícios.
— Vemos uma resistência às mudanças por parte das corporações e um silêncio da sociedade civil. Se a sociedade civil não se manifesta, ela é cúmplice de seu fracasso. Não vamos ter um ajuste fiscal se não fizermos muitas reformas — disse, acrescentando que a reforma da Previdência é apenas uma parcela desse esforço.
Fonte: “O Globo”
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