Nunca antes nesse país houve um apagão como o que deixou 18 Estados e 70 milhões de pessoas nas trevas. Foram mais de quatro horas entre a noite do dia 10 e a madrugada do dia 11 deste novembro, de transtornos de todos os tipos em hospitais, elevadores, no trânsito, além de perdas de eletrodomésticos, assaltos facilitados pela escuridão, subsequente falta de água. E a parada completa de Itaipu, como não podia deixar de ser, apagou também o Paraguai.
Na barafunda que se seguiu nem o presidente da República nem sua candidata apareceram para justificar o acontecido. Foi designado para dar explicações estapafúrdias o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que falou sobre raios e tempestades como causas do monumental apagão. Foi pouco criativo, porém, o ministro, pois mesmo tendo o povo acreditando na invencionice, ficaria mais emocionado se Lobão tivesse assacado a historieta de um raio tridimensional lançado por um OVNI em Itaipu.
Coroando a Idade das Trevas o ministro Tarso Genro afirmou que tudo não passara de um microincidente. Lula da Silva preferiu espertamente se eximir de qualquer responsabilidade no caso de futuros apagões e, exibindo mais uma vez intimidade com o Criador, declarou: “só Deus livra o país de um novo apagão”. Dilma, a candidata, ao reaparecer do breu aproveitou para politizar o acontecido lembrando o apagão havido no governo de FHC. Fustigou a mãe do PAC: “Damos neles de 400 a zero”. Em entrevista, a ministra se esqueceu por uns momentos do figurino imposto pela propaganda, aquele do “Dilminha paz e amor”, e retomou ao habitual estilo ríspido, arrogante e autoritário diante de jornalistas.
Para minimizar ainda mais o infausto acontecimento foi lembrado que houve também apagão em 9 de novembro de 1965, em Nova York. Esqueceram de contar que o de lá afetou sete Estados e 25 milhões de pessoas e não 18 Estados e 70 milhões de pessoas como o de cá. E nos Estados Unidos logo se descobriu que o apagão fora causado por falha humana e não por culpa de São Pedro.
De todo modo, tanto o ministro Lobão quanto a candidata do presidente deram um cala-boca geral ao avisar que o assunto está encerrado. Tudo será esquecido e, provavelmente, nas próximas pesquisas de opinião, Lula da Silva chegará aos 99% de aprovação.
Mais do que a fragilidade de nosso sistema de energia que, segundo o governo, pode ser paralisado por um raio, o apagão leva a outros tipos de preocupação. Vejamos algumas:
Primeiramente, há que se preocupar com a intoxicante propaganda que inclui o culto da personalidade de Lula da Silva, algo característico dos sistemas ditatoriais. Só fatos positivos podem ser exibidos e benefícios são distribuídos aos pobres e ricos em forma de bolsas-esmola ou lucros fabulosos. É omitido, por exemplo, que a subestação do apagão nunca foi fiscalizada; que o governo deixou de investir R$ 20 bi em infraestrutura nos últimos cinco anos; que o desperdício do governo ligado ao aparelhamento do Estado e às bondades para com vizinhos e amigos é prejudicial ao povo brasileiro; que as contas do governo são maquiadas através de reajustes fiscais; que o Congresso Nacional tem sido progressivamente submetido ao voluntarismo político do Executivo; que o sistema de Saúde é cruel; que a Educação atingiu seu nível mais baixo em termos de qualidade; que o presidente da República não perde a oportunidade de promover o descrédito da imprensa enquanto seu governo sonha estatizar a mídia e coopta a imprensa do interior; que instituições importantes para a democracia apontam para veracidade do ditado: “pagando bem, que mal tem”; que a violência tem aumentado não só através dos ataques do MST, mas pela falta de efetivo combate ao narcotráfico; que as decisões do STF não valem mais nada porque têm que passar pela vontade soberana de Lula da Silva; que o TCU está incomodando o presidente da República e por isso tem que ser anulado.
Outra preocupação diz respeito à ausência de oposições. O PSDB, por exemplo, prefere não mostrar que o atual sucesso do BC se deve a continuidade das políticas adotadas em 1999. O PSDB omite que a vitória sobre a inflação que garantiu a estabilização dos preços, o resgate do valor dos salários, a possibilidade de pessoas e empresas planejarem seu futuro, portanto, o verdadeiro combate à pobreza, aconteceu no governo de FHC. E tucanos, incluindo FHC, têm sido extremamente complacentes com Lula da Silva e seu governo petista.
Sem oposição, resta a propaganda enganosa. Sem oposição, difícil enfrentar a campanha eleitoral dos que são ao mesmo tempo governo e candidatos, dotados de todos os tipos de recursos para seduzir ainda mais o eleitorado. Por isso, profetizou Carlos Pio, em artigo publicado no O Estado de S. Paulo de 13/11/09, que “Dilma será o novo presidente”. Se for, teremos Dilma Apagão: não apenas apagão de energia, mas de democracia.
O PT prepara sua terceira fase com a dama de aço, com inflexão à esquerda e o velho e autoritário discurso de ampliação do Estado. De braços dados com Chávez e seus seguidores caminharemos sem medo e felizes para o nebuloso Socialismo do Século 21. No cenário de deterioração da democracia da América Latina não faremos feio.
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