Passadas as comemorações da independência, é chegada a hora de refletirmos sobre temas políticos que nos são fundamentais e que merecem, por assim ser, um enfrentamento sério e uma definição precisa. Até mesmo porque de que vale ser independente se não se sabe o que é a liberdade? E como compreender o conceito de liberdade com escolas públicas pobres e empobrecidas, com professores mal remunerados e com alunos pouco estimulados a desvendar os segredos do saber? Então, como falar de democracia perante uma nação que parece condenada ao vazio do desconhecimento e ao desvão da indigência cívica?
Sim, não há dúvida de que a Constituição garante o direito de voto, mas votar nem sempre significa democracia. Afinal, bastará uma ditadura permitir eleições com resultados previamente definidos para termos votações farsescas e participação política de fantasia. Ora, democracia é muito mais que voto.
Democracia é querer participar efetivamente das decisões políticas do país; é não temer o poder, ter liberdade de criticá-lo e propor novos caminhos; é não calar e enfrentar injustiças; é não se acovardar frente às dificuldades; é bater de frente com corruptos e corruptores; é ser firme para dizer não e ser generoso para falar sim; é compreender que liberdade e independência são prerrogativas pessoais que precisam do respeito à lei para se tornarem valores políticos absolutos; é exigir um governo responsável que cumpra diariamente o dever de falar a verdade e jamais transigir com a mentira.
Não há dúvida de que punir mensaleiros e quejandos é necessário e inadiável, pois impunidade não combina com decência. Mas é preciso ir além. Precisamos estabelecer um debate sobre os valores e princípios que nos formam, que constituem nossa dignidade política como nação e que nos legitimam como cidadãos. Gostamos muito de exclamar que somos uma democracia, quando, na verdade, confundimos democracia com direito de voto. É lógico que sem direito de voto não existe livre participação política, mas votar é apenas uma estação do ano democrático, uma primavera ou um verão da liberdade.
Portanto, para mudarmos esta rotina moralmente degenerada e eticamente pueril, precisaremos ser melhores cidadãos do que fomos até aqui. Precisaremos sair do comodismo de apenas criticar e começar a fazer, pois as situações não mudam por inércia nem por palavras jogadas ao vento.
Democracia é uma responsabilidade pessoal de luta pela liberdade individual com consciência política coletiva. Não é apenas um fazer por si, mas também pensar na família, nos amigos, na comunidade e em todos os brasileiros que precisam de um sério trabalho conjunto para ter o mínimo de dignidade e decência na indecifrável aventura do viver. Será, então, que podemos fazer mais e melhor?
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