2018 será um ano de eleições. Estas são as linhas gerais que, como cidadão, gostaria que o futuro presidente pronunciasse ao tomar posse. Creio que espelha as aspirações de muitos dos leitores do Valor.
“Quero me dirigir aos brasileiros para passar cinco mensagens principais. A primeira -e a mais importante de todas – é uma mensagem de união. Nosso país passou por anos muito difíceis nos últimos tempos. Tivemos o segundo impeachment de um presidente da República entre os quatro cidadãos que foram eleitos para o cargo depois da redemocratização de 1985 e uma disputa política muito tensa nos dois anos e meio que se seguiram a esse episódio.
Hoje creio que é chegado o momento de todos, figurativamente, deporem as armas. Comprometo-me a ser o presidente de todos os brasileiros. Um país não pode se desenvolver se o radicalismo de parte a parte domina as ações de todos. Temos que substituir a guerra de guerrilhas pela conversa e a tentativa sistemática de cercear a ação dos adversários pela negociação. Serei um presidente aberto ao diálogo e me esforçarei por ganhar a confiança de todos.
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A segunda mensagem é acerca da gravidade da situação. Vivemos a pior crise fiscal dos últimos 50 anos. O déficit público médio dos últimos 4 anos foi de 9% do PIB. A dívida pública, que era de 52% do PIB em 2013, alcançou aproximadamente 80% do PIB em 2018. O gasto excluindo juros e transferências do governo federal, que em 1991, quando as estatísticas começaram a ser feitas com a metodologia atual, era de 11% do PIB, somou 20% do PIB em 2018.
Por onde se olhe a questão, a dramaticidade do quadro salta aos olhos. O Brasil já sofreu no passado as duas únicas consequências possíveis às quais esse tipo de trajetórias acaba conduzindo cedo ou tarde, na ausência de correções de rota: o descontrole inflacionário ou o “calote” da dívida pública. Não fui escolhido para levar o país a um desses dois destinos e sim pela razão contrária: fui eleito para evitar que um desses desastres aconteça.
Temos que ajustar as contas públicas e vou dizer isso de forma muito clara: trata-se de um desafio urgente e a base disso será a reforma da Previdência. Minha equipe dará a devida prioridade ao tema, desde o primeiro dia de governo.
A terceira mensagem que tenho para compartilhar se relaciona com o tema da produtividade. E neste ponto não podemos tapar o sol com a peneira: a produção de bens e serviços que cada brasileiro produz em média é muito baixa. Mesmo nos bons anos da década passada, quando o país cresceu bastante, esse crescimento se deu principalmente pela expansão do emprego. Isso foi muito positivo na época porque diminuiu o desemprego, mas quando a disponibilidade de mão de obra se esgota, o país depende do dinamismo da produtividade – e ele é baixo.
Teremos que produzir mais por trabalhador ocupado e isso demanda duas mudanças enormes em relação a como o país funcionou no passado. Primeiro, teremos que dar uma importância muito maior à educação. E segundo, teremos que vencer o desafio de aceitar a competição. Sem encarar esta necessidade de frente, continuaremos a depender do protecionismo e dos favores do Estado – e este está exaurido por décadas de políticas que não cabem mais no orçamento.
A quarta mensagem é um compromisso: o zelo com a coisa pública. A Lava-Jato representou o fim de um ciclo. Sou consciente do significado disso e das demandas enormes que representará sobre a postura dos governantes de agora em diante e prometo não decepcionar a população. Quero, aspiro e pretendo que o Brasil deixe de ser reconhecido pelos seus habitantes e pelo resto do mundo como o país da corrupção e dos escândalos, o que nos enche de vergonha diante de nossos próprios olhos e da comunidade internacional. Precisamos combater essa mancha e irei me empenhar ao máximo na procura desse objetivo.
Por fim, quero deixar uma última, mas não menos importante, mensagem, acerca de algo que se tornou a principal preocupação de muitos brasileiros: o problema da segurança. Depois da redemocratização, esse foi um tema relegado a um segundo plano pelo conjunto das forças políticas que dominaram o país. Poucas coisas são tão importantes hoje para o cidadão comum que recuperar a tranquilidade de ir e voltar de casa para o trabalho e vice-versa sem medo da violência que está à espreita em todas as esquinas do Brasil. Trabalhar em conjunto com as autoridades estaduais, sem distinção partidária, será obsessão para este presidente.
Quero ser cobrado no futuro por estas mensagens. Se a população sentir que terei cumprido com estas palavras, a jornada dos próximos quatro anos terá valido a pena. Faço minhas as palavras do ex-governador Eduardo Campos na sua última entrevista antes de morrer: ‘Não vamos desistir do Brasil’. Temos muito a fazer. Obrigado a todos pela colaboração”.
Se o novo Presidente tomar posse em 2019 pronunciando algo parecido ao que está acima, estaremos em boas mãos e poderemos ter 4 anos de prosperidade.
Fonte: “Valor Econômico”, 13/12/2017
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