O ignorante tem opinião sobre tudo. O sábio, somente sobre o que ele conhece. Essa foi a resposta que dei, num debate sobre economia, em réplica de opiniões feitas por pessoas sem instrução formal na ciência econômica, sem conhecimento dos dados e que não estudaram as experiências onde aquilo havia sido implantado. Afirmei que ninguém precisa ter diploma de economista para entender os temas econômicos, mas ser ignorante no assunto e não ter se dedicado a estudá-lo só pode resultar em opinião amadora, sem base teórica e sem respaldo na experiência.
Muitas são as pessoas letradas, mas ignorantes em assuntos fora de sua área, que não se sentem constrangidas em opinar sobre outras áreas. O hábito de emitir opinião sobre tudo, principalmente sobre assunto não conhece, é apenas chute e resulta da preguiça de estudar e adquirir conhecimento. Todos somos ignorantes, apenas em assuntos diferentes. Logo um argumento sobre temas complexos somente tem credibilidade e merece consideração se estiver respaldado em conhecimento, experiência e informação.
Claro, ninguém está proibido de opinar, mas uma coisa é a opinião genérica, sem pretensão, outra coisa é a opinião técnica, bem embasada e responsável. O mundo é complexo, as ciências e as tecnologias evoluem sem parar, as teorias se multiplicam, as inovações e as descobertas ocorrem todos os dias. Cada vez mais o ato de estudar e adquirir conhecimento é requisito da opinião e da solução de problemas.
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Para o escritor Charles Colton (1780-1832), “a dúvida é o vestíbulo pelo qual todos precisam passar para adentrarem o templo da verdade”. Quanto mais sábio um homem, mais ele busca estudar, pesquisar e conhecer, para aprender e enunciar suas ideias e propostas. Ao mesmo tempo, o verdadeiro sábio é humilde diante da imensidão do universo e do volume de conhecimentos científicos acumulados, por isso ele sabe que deve submeter suas ideias e opiniões ao exame crítico da ciência e da razão.
Uma ressalva: quando falo em “ignorância” não me refiro à falta de títulos e diplomas, pois estes não garantem a ninguém o ingresso no clube dos cultos e dos sábios. Atualmente, os meios e os recursos à disposição de quem quer estudar e adquirir conhecimento são tão amplos que tornou-se fácil e barato estudar e aprender. Portanto, não se trata de cargo, título ou diploma. Trata-se de conhecimento.
O escritor George Iles (1852-1942) alertou para o fato de que “a dúvida é o início, não o fim, da sabedoria”, pois é da dúvida que nasce o desejo de estudar e pesquisar, o que implica vontade, dedicação, disciplina e apreço pelo saber. Há que separar a opinião amadora, típica das discussões de boteco, da opinião profissional derivada de conhecimento adquirido. E o aprendizado, seja nos estudos teóricos ou na experiência prática, requer certos pressupostos. Um dele é “método”.
+ Fernando Luis Schuler: O poder e a liberdade de imprensa
A empresa Picodi analisa os hábitos de leitura e de compra de livros pelos brasileiros e, conforme pesquisa feita por ela no começo de 2019, a constatação foi de que 31% da população não lê livros, não tem o hábito de leitura e/ou não se interessa por livros no geral. Em 2016, saiu a pesquisa Retratos da Leitura, mostrando que a média de leitura é 4,9 livros ao ano, que 44% da população brasileira não lê e 30% dos brasileiros nunca compraram um livro. E também que é grande o número dos que compram livros e não leem até o fim.
O grande escritor Monteiro Lobato (1882-1948), nascido em Taubaté-SP, afirmou que “um país se faz com homens e livros”, mas parece que por aqui seu alerta não foi muito ouvido. É bem verdade que parte da população brasileira é pobre, ou miserável, sem recursos para comprar livros. Mas, certamente, mesmo entre os que têm condições de comprar, o nível de leitura é muito baixo. A educação é o grande desafio.
Fonte: “Gazeta do Povo”, 31/10/2019