A definição de “cultura” está relacionada ao comportamento e estilo de vida dos indivíduos e comunidades nos mais variados lugares e momentos da História. É aquilo que o homem produz, que não foi dado pela natureza. Ainda assim, essa definição vem perdendo sua real compreensão, principalmente em anos eleitorais. Algumas pessoas entendem como cultura apenas as formas de entretenimento como os espetáculos de teatro ou concertos musicais, quando, na verdade, ela vai muito além: estimula o Estado de Direito e a democracia.
Em conversa com o Instituto Millenium, o dramaturgo Moacyr Góes, alerta: “A cultura nos processos eleitorais é sempre deixada de lado por uma simples razão, nenhum governo entende seu papel e importância. A cultura é tudo aquilo que se produz como um modo de se relacionar, e se isso for entendido dessa forma, então, criar condições para que esse nicho se desenvolva é uma aposta no futuro. Qualquer tentativa ou abandono da ideia de que a cultura não deve ser preservada, significa que as nossas perspectivas culturais não devem ser garantidas”. Ouça a entrevista completa no player abaixo:
A recente tragédia do Museu Nacional do Rio de Janeiro expôs a urgência de um novo modelo de governança. Essa não foi a primeira vez que um incêndio causa danos à uma instituição científica no Brasil. O Museu da Língua Portuguesa foi atingido em 2015, e em 1978 o Museu de Arte Moderna do Rio teve quase todo o seu acervo destruído pelo fogo, entre outros casos. Para Góes, é preciso ter calma para enfrentar com clareza este momento e restabelecer o papel da cultura em nosso país:
“O que aconteceu com o Museu Nacional, aconteceu com outros aparelhos da cultura, e vou dizer uma coisa horrível: acontecerá brevemente com outros prédios históricos. O abandono da nossa memória é algo sintomático, é o abandono de uma compreensão de povo. É preciso mudar as apostas que fazemos em relação ao Estado e desmistificar a ideia de que a arte não tem nada a ver com o mercado, porque tem, tudo é mercado. A nossa concepção de país se esgotou e estamos vivendo essa crise. A bola precisa baixar e precisamos entender o que a cultura realmente significa”.
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O dramaturgo afirma que os brasileiros ainda acreditam que criações artísticas carecem somente de financiamentos ou patrocínios do Estado. É preciso mudar esse pensamento, aponta, já que o resultado de um trabalho totalmente custeado pelo governo torna a arte um exercício “domesticado”:
“Tudo no Brasil depende muito do Estado para viver e com a cultura não poderia ser diferente. Temos uma certa propensão ruim em pensar que tudo deve ser patrocinado, é quase como se precisássemos de uma tutela ou de uma escravidão feliz, digamos assim. Espetamos no Estado alguma possibilidade de financiamento de alguma coisa. Enquanto isso existir, nunca teremos a constituição de um mercado que se sustente e produza riqueza”.
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